Fenaban apresenta proposta com prejuízo de mais de R$ 1,2 bilhão aos bancários
A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) voltou a desvalorizar a categoria bancária e negou a reivindicação por aumento real, na 10ª rodada de negociações com o Comando Nacional dos Bancários, realizada nesta terça-feira (27/8).
No início do encontro, a entidade propôs reajuste de 90% do INPC, o que resultaria em perda salarial de 0,38%. O Comando rejeitou prontamente e uma pausa foi solicitada pelos bancos. No retorno, a entidade apresentou proposta de 100% do INPC nos salários e demais verbas (portanto, de ganho real zero), somente em janeiro de 2025. Com essa proposta, a antecipação da participação nos lucros e resultados (PLR) ocorreria sem reajuste. O Comando rejeitou novamente.
“Não há nenhuma possibilidade de defender um acordo sem aumento real, imagine ainda um acordo com prejuízos à categoria”, pontuou a coordenadora do comando e presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “Com essa proposta de reajuste zero e deixando de aplicar o reajuste em setembro, mas somente em janeiro, os bancos retirariam do bolso das trabalhadoras e trabalhadores R$ 1,2 bilhão, considerando salários, segunda parcela do 13º, vale alimentação e vale refeição e antecipação da PLR”, completou.
Pela proposta da Fenaban, é como se cada bancário passasse para os bancos R$ 682 por mês, durante os quatro meses. Sem contar os ganhos relacionados aos encargos que os bancos deixariam de pagar entre setembro e dezembro, pelo não reajuste no período. “Ou seja, estão querendo ganhar dinheiro às custas dos funcionários. Um presente lamentável dos bancos, diante da véspera do dia nacional dos bancários”, continuou Juvandia.
Diante da falta de empenho da Fenaban em concluir as negociações, o Comando Nacional pontuou que estará em São Paulo para as negociações até sexta, que é o prazo que os bancos têm para apresentar uma proposta decente. As negociações continuam nesta quarta-feira (28/8), a partir das 10h.
O Comando cobrou que, no próximo encontro, os bancos respondam às reivindicações sobre suporte aos pais de PCDs, o combate ao endividamento dos bancários, respeito ao direito à desconexão, combate à terceirização, garantia dos empregos, ampliação do teletrabalho, além do aumento real da remuneração e PLR, entre outros pontos da minuta.
Manifestações e assembleias
O Comando Nacional tirou um dia nacional de luta, para esta quarta (28/8). O coletivo também decidiu realizar assembleias no dia 4 de setembro, antecedidas de plenárias, a partir das 18h, para que a categoria avalie propostas ou os rumos das mobilizações.
“O momento exige responsabilidade dos bancos em apresentar uma proposta que realmente valorize os trabalhadores. No entanto, os bancos insistem em trazer para a mesa propostas sem aumento real e querendo impor perdas aos trabalhadores”, destacou o presidente da Fetrafi/NE, Carlos Eduardo.
Para Fenaban, a culpa é dos bancários
A Fenaban culpou as trabalhadoras e trabalhadores “por encarecerem os produtos dos bancos” e voltou a reclamar da concorrência, sem dizer, entretanto, que muitos bancos são detentores de instituições de pagamentos.
O Comando rebateu e lembrou que as principais receitas dos bancos representam 10 vezes as despesas de pessoal, enquanto que, nas cooperativas, essa relação é de 7 para 1 e, nas instituições de pagamento de 1,3 para 1. Assim, mesmo que as despesas de pessoal dos bancos sejam superiores as das cooperativas e das instituições de pagamento, as receitas dos bancos são 15 vezes maiores que das cooperativas e 123 vezes maiores que das instituições de pagamento, segundo dados dos balanços do 1º trimestre de 2024.
A Fenaban disse ainda que a concorrência no setor afeta o emprego bancário, argumento também desmontado pelos representantes dos trabalhadores, que observaram que o processo de plataformização (impulsionamento da inovação) nos bancos está sendo utilizando como estratégia para demitir e contratar trabalhadores terceirizados e autônomos. “E mesmo que os bancários não tivessem reajustes, os bancos continuariam fechando agências e demitindo. E isso tem haver com ganância e não com concorrência”, pontuou Juvandia.
Por fim, os representantes dos bancos culparam as conquistas da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) pela redução de trabalhadores no setor. “Em um país em que dois da lista dos cinco novos bilionários da Forbes em 2024 são banqueiros, em que entre as 10 maiores empresas do país, cinco são bancos, além de desrespeitar o trabalhador com esses apontamentos, a Fenaban não demonstra ter compromisso com o desenvolvimento do país”, destacou Juvandia Moreira, voltando a lembrar que, só em 2023, os bancos tiveram lucro de R$ 145 bilhões. “Estamos falando de lucro, já descontados impostos, provisões, gastos com funcionários e equipamentos”, completou.
A também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, reforçou que a categoria não irá aceitar uma proposta de reajuste que não seja de aumento real. “Estamos falando do setor bancário, que nunca perde, mesmo em momentos de crise. Essas propostas de reajustes que impõe perdas econômicas para os trabalhadores, justamente os responsáveis pelos resultados dos bancos, é inadmissível”, concluiu.
Dia do Bancário: Celebração de uma história de conquistas e lutas
Nesta quarta-feira (28/8), celebramos o Dia do Bancário, uma data significativa que marca as conquistas e a trajetória de luta das bancárias e dos bancários em todo o Brasil. Oficializada em 1952, por deliberação do 4º Congresso Nacional dos Bancários, a data foi transformada em lei em 1964 e hoje é feriado em mais de mil cidades brasileiras, reconhecida por legislações municipais e estaduais.
A história dos bancários é marcada por vitórias que servem de exemplo para outras categorias profissionais, não apenas no Brasil, mas ao redor do mundo. Um dos maiores marcos dessa trajetória é a Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), que completa 32 anos em 2024. A CCT dos bancários é nacional e unificada, garantindo direitos que vão além do previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Hoje, quando se fala em “CLT Premium,” muitos pensam nos bancários e seus direitos, como vale-refeição, plano de saúde, bônus por desempenho, e até cursos pagos pelo empregador. No entanto, eles não foram dados de graça. É crucial entender que esses direitos extras são frutos de muita luta e organização sindical. Eles foram conquistados ao longo de décadas de mobilizações e negociações, não só pelos bancários, mas por diversas categorias profissionais no Brasil.
Neste contexto de conquistas históricas, é importante lembrar que o cenário do emprego no Brasil passa por transformações significativas. O país registrou um boom de empregos, com quase 102 milhões de pessoas trabalhando atualmente. A taxa de desemprego caiu de 7,3% para 6,9% no segundo trimestre de 2024, a menor para o período em dez anos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), do IBGE. Esses números têm gerado debates, especialmente nas redes sociais, sobre o que é melhor para os trabalhadores.
Enquanto alguns defendem o emprego com carteira assinada, outros ainda confundem empreendedorismo com relações de trabalho precarizadas, acreditando que a autonomia pode substituir a segurança oferecida pela CLT. No entanto, ter um contrato formal pela CLT garante uma série de direitos fundamentais, como jornada de trabalho de até 44 horas semanais, férias remuneradas, 13º salário, FGTS, seguro-desemprego, licença-maternidade/paternidade, entre outros.
“Neste Dia do Bancário, é fundamental reconhecer e celebrar a importância dessas conquistas, que garantem não apenas melhores condições de trabalho, mas também uma vida mais digna para milhões de trabalhadores em todo o país. Que essa data inspire novas gerações a continuar lutando por mais direitos e melhores condições de trabalho para todos”, afirmou a presidenta da Contraf-CUT, Juvandia Moreira.
No Ceará, o bancário Tarciso Coelho, do município de Cedro, fala sobre o seu sentimento pela profissão. Confira:
Hoje celebramos o Dia do Bancário. Aos 70 anos, sinto um profundo orgulho pela minha trajetória profissional. Minha Carteira de Trabalho foi assinada pela primeira vez em 1970 e, mesmo após uma aposentadoria, retornei ao mercado de trabalho através de um novo concurso. Desde 1976, exerço a profissão de bancário com dedicação e paixão. Após apenas oito meses de aposentadoria, percebi o quanto sentia falta da atividade bancária e da interação com o público. Assim, retornei ao trabalho e continuo a atender nossos clientes com o mesmo compromisso de sempre.
Embora encontre algumas pessoas que não compreendem minha permanência no emprego — imaginando que eu deveria estar desfrutando a aposentadoria, viajando ou me dedicando a outras atividades —, mantenho meu foco em oferecer um atendimento de qualidade. Em uma entrevista, um radialista perguntou se não era um “acinte” ocupar uma vaga que poderia ser de um jovem. Respondi, com tranquilidade, que a oportunidade está aberta a quem conseguir conquistá-la através de concursos e dedicação.
O que realmente me motiva a continuar é a satisfação de servir aos clientes e contribuir para nossa instituição. No dia a dia, mesmo enfrentando desafios, como pessoas tentando “furar a fila” ou buscando minha ajuda para acessar áreas restritas, tenho a satisfação de ser considerado não apenas um “quebra-galhos”, mas alguém experiente e confiável para resolver problemas e realizar tarefas com eficiência. Minha escolha atual de atuar apenas como caixa ou atendente é uma decisão pessoal para evitar maiores responsabilidades e, de certa forma, abrir espaço para novos talentos.
Hoje, no Dia do Bancário, quero celebrar não apenas minha própria jornada, mas também a contribuição inestimável de todos os profissionais do setor financeiro. Cada um de nós, independentemente da idade, desempenha um papel crucial na operação e no sucesso das instituições financeiras. A experiência e a dedicação são valores que enriquecem nossa profissão e ajudam a construir um futuro mais sólido para todos.