A classe trabalhadora não pode ser vítima da crise econômica dos capitalistas

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Os empresários brasileiros são normalmente muito oportunistas: sempre souberam aproveitar bem as oportunidades de aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora e de conseguir facilidades e benefícios governamentais, cuja conta, em última instância, é paga por toda a sociedade. É inegável que a crise econômico-financeira tem reflexos também no Brasil.


De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção industrial de novembro teve uma queda de 5,2% em relação a outubro que, por sua vez, registrou um recuo de 2,7% em relação ao mês anterior, o que dá um total de 8% de queda. São dados preocupantes. Poderiam ser ainda piores, se a economia brasileira não estivesse assentada em bases sólidas.


Agora, ao primeiro sinal de ameaça nesse ciclo virtuoso, as empresas nacionais e multinacionais atiram-se nos braços do Estado, implorando subsídios, facilidades, financiamentos a perder de vista, abertura de linhas de crédito etc. O Estado deixa, de repente, de ser uma entidade diabólica que só interfere na vida das pessoas e inibe a ação do mercado e passa a ser a única salvação. Os longos discursos em defesa do Estado Mínimo são temporariamente retirados de circulação.

A crise é o pretexto – Muitas empresas estão demitindo funcionários ou ameaçando demitir, outras ainda falam em redução de jornada com redução de salários, utilização do banco de horas, redução ou mesmo fim de planos de assistência médica etc. Na verdade, a maioria dos empresários está usando a crise como pretexto para impor ao movimento sindical e à classe trabalhadora medidas que “flexibilizem” as relações do trabalho. Nós precisamos justamente do contrário: de uma legislação clara, com acordos que respeitem direitos sociais e econômicos, junto com medidas que garantam a estabilidade no emprego.


Qualquer discussão séria sobre como vencermos o turbulento período de crise deve partir do pressuposto de garantia de estabilidade no emprego. Sem isso, tentativas de acordo ou negociação vão inevitavelmente malograr. Afinal, a classe trabalhadora é, há muito tempo, a grande prejudicada no Brasil, um País marcado pela injustiça social e pelo abismo econômico a separar a minoria rica da maioria pobre.


Sempre que há crise, a solução dos empresários é jogar o custo da crise sobre os ombros dos trabalhadores. A CUT, aliás, tem uma série de propostas, alinhavadas em trinta itens, com propostas voltadas para a defesa e garantia do emprego, investimentos, concessão de crédito, redução de juros etc.


O movimento sindical está disposto a debater essas medidas e outras que surjam para combater a crise, desde que haja seriedade nas negociações. Não aceitaremos que a história se repita, de forma trágica, com os trabalhadores pagando, mais uma vez, pela crise dos capitalistas.

Aparecido Donizeti da Silva, coordenador Geral da CNQ-CUT