A Dívida dos Bancos

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A reestruturação produtiva do âmbito bancário, como em outros setores da economia, tem sempre o mesmo saldo objetivo: elevação da produtividade e apropriação privada de seus ganhos pelo patronato, diminuição dos postos de trabalho e manutenção de lucros históricos exorbitantes. Os trabalhadores e suas entidades representativas – os sindicatos – não podem apenas constatar a existência deste fato e suas conseqüências funestas. É preciso compreendê-lo e responder, responder com luta, com luta permanente.


O momento de Campanha Salarial deve um ponto forte de um processo continuado de lutas. É este o momento de alertar a sociedade como um todo e mobilizar especialmente os bancários para reagirem contra a enorme dívida acumulada pelos bancos brasileiros, especialmente os bancos privados.


Em primeiro lugar, relativamente a questões de natureza puramente corporativa e nem por isso ilegítimas, podemos destacar pontos a serem corrigidos imediatamente para os bancários como um todo: o piso (é muito pequeno comparativamente a outros profissionais e a capacidade de pagamento dos bancos), a reposição da inflação e um razoável ganho real (a serem estabelecidos nos fóruns próprios e garantidos pela força da mobilização unitária), a jornada de 6 horas (bom para o bancário e sua família e elemento que pode induzir a novas contratações), a isonomia (notadamente no BB, BNB e na CEF se faz necessária a implementação deste instrumento de eqüidade coletiva), uma Participação nos Lucros e Resultados mais fortalecida e justa e adoção de um Plano de Cargos de Salários que faça com que o bancário visualize uma empresa com possibilidade de crescimento a partir do seu trabalho… É evidente que toda a Convenção Coletiva do Trabalho é importante e deve ser discutida. Os pontos elencados anteriormente são apenas alguns poucos a serem objeto da centralidade da luta dos próximos meses.


Em segundo lugar, relativamente à sociedade, o discurso e a prática dos sindicatos deve contemplar: a retomada da defesa dos bancos públicos (para quem vai o crédito bancário? Como oferecer um melhor atendimento ao público em geral, entre outras coisas); a geração de emprego nos bancos (a categoria já foi em março de 1989 cerca de 840.000, em 1986 estava reduzida à cerca de 450.00; é verdade que em 2004 foram gerados no sistema financeiro 6.000 empregos, contabilizando a categoria bancária 405.000 postos de trabalho; em 2005 – 420.000 e em 2006 – 435.000 – é, reconhece-se, alguma melhora advinda principalmente dos concursos públicos ocorridos na CEF, BB e BNB. É, contudo, pouco relativamente ao que pode ser gerado de emprego nos bancos como um todo).


Combinando as justas reivindicações dos bancários com as necessidades da sociedade como um todo, especialmente da classe média e dos pobres, é fácil constatar a enorme dívida acumulada pelos bancos. E o resgate dela começa nesta Campanha Salarial, mas certamente exigirá uma luta que vá além dela.