A doença que assusta o Brasil

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Todo ano, o filme se repete. Hospitais lotados, falta de informação e força tarefa do poder público para remediar um problema que poderia ser evitado: a dengue. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em conseqüência da dengue.


A doença avança no Ceará e em todo o País, gerando grande preocupação. “A dengue extrapola as divisas da saúde, pois é um problema que abrange questões urbanas, geográficas, climáticas e culturais. Por isso, as ações têm que ser desenvolvidas de forma articulada e intersetorial em toda a cidade, simultaneamente”, afirma o assessor técnico de Comunicação e Mobilização Social da Secretaria de Saúde de Fortaleza, Duda Quadros.


No período de 1/1 a 3/4, a Secretaria de Saúde de Fortaleza notificou 3.852 casos suspeitos de dengue, sendo 3.628 de residentes em Fortaleza e 224 de pacientes vindos de outros municípios. Os casos suspeitos de Febre Hemorrágica da Dengue (FDH) foram 192, sendo 133 de residentes em Fortaleza e 59 em outros municípios. Nos últimos sete anos, a dengue hemorrágica cresceu 7.350% no Estado. Até o dia 4/4 foram registrados pela Secretaria de Saúde do Estado 10.104 casos suspeitos de dengue em 140 municípios.


O técnico em manutenção, Marcos Estevão, não gosta de lembrar do ano em que apresentou sintomas de dengue hemorrágica. Em 2003, quando trabalhava numa sucata, Marcos começou a sentir fortes dores de cabeça e nas costas, mas não chegou a procurar um médico. “Passei seis dias tomando remédio por conta própria. Só fui ao hospital depois que comecei a vomitar sangue”, afirmou ele.


Já a operadora de telemarketing, Socorro Zacarias, foi logo ao médico. “Fui ao hospital, recebi medicação para as dores e fiz o exame. Depois do resultado, a médica disse que era uma virose forte. Voltei para casa e os sintomas começaram novamente. Fui a outro hospital e o médico constatou que eu estava com dengue”, relata.


Um dos fatores que atrapalha o controle da doença é a dificuldade de detectá-la. O vírus ainda demora de um a dois dias para apresentar os sintomas. Exatamente por isso é muito difícil você fazer um diagnóstico num primeiro momento.


Segundo o médico infectologista, Érico Arruda, “o tratamento da dengue é sintomático, ou seja, a medicação utilizada serve apenas para aliviar os sintomas da doença até que o ciclo do vírus se conclua. Medicamentos que contenham ácido acetilsalicílico (AAS, Aspirina, Buferin, Melhoral, Doril etc) são contra-indicados por interferirem na coagulação. Para evitar complicações, a hidratação é fundamental. É importante que o paciente beba bastante líquido. Nos casos mais graves, é necessário o recebimento de soro na veia”.

ENTENDA A DOENÇA – A dengue é uma doença febril aguda, por isso acaba sendo difícil de distingui-la de uma gripe ou outra virose. O que realmente constata o seu diagnóstico é o exame laboratorial. Na dengue clássica é comum sintomas como febre, dor de cabeça, dores no corpo, náuseas, perda de apetite, vermelhão da pele e diminuição da freqüência dos batimentos do coração. Na forma hemorrágica, os sintomas são semelhantes, mas a doença é muito mais grave, por causa das alterações da coagulação sanguínea. Pequenos vasos podem sangrar surgindo hemorragias nasais, gengivais, urinárias, gastrointestinais ou uterinas. Em alguns casos pode levar à morte.


O Aedes aegypti vive cerca de 30 dias, mas apesar da vida curta, o mosquito pode picar uma pessoa a cada 20 ou 30 minutos. Os ovos do mosquito podem sobreviver um ano em ambiente seco. Por isso, não basta esvaziar os recipientes com água, é preciso esfregá-los para retirar os ovos do mosquito depositados na superfície da parede interna.

CAMPANHA: O Sindicato dos Bancários do Ceará, em parceria com a Secretaria de Saúde do Município (SMS), está lançando uma campanha de mobilização ao combate à dengue, convocando companheiros do movimento sindical, social e popular a atuarem como agentes no combate ao mosquito.