A irresponsabilidade social dos bancos

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A Fenaban desperdiçou uma boa oportunidade para reconhecer os erros do sistema financeiro e apresentar propostas para mudar a relação dos bancos com a sociedade, valorizar os bancários, melhorar o atendimento aos clientes e à população e colocar em prática o discurso de responsabilidade social. É o que podemos deduzir nitidamente do artigo “Dentro dos bancos”, do superintendente de relações do trabalho e negociador da Fenaban, Magnus Apostólico, publicado por O Globo no dia 1º de setembro, véspera da terceira rodada de negociações com o Comando Nacional dos Bancários, em resposta ao artigo “Por trás das filas”, assinado por mim e veiculado pelo mesmo jornal no último dia 10 de agosto.


A réplica dos banqueiros não explica os resultados negativos da pesquisa de emprego nos bancos, elaborada trimestralmente pela Contraf-CUT e Dieese. Enquanto as 21 maiores instituições financeiras do País lucraram R$ 14,3 bilhões no primeiro semestre deste ano, os bancos desligaram 15.459 bancários e contrataram apenas 13.235, o que significa o fechamento 2.244 postos de trabalho no mesmo período, o que é injustificável para o setor mais lucrativo da economia e que não foi afetado pela crise mundial.


O levantamento mostra que os bancos, sobretudo os privados, descartam trabalhadores com salários maiores e admitem novos com remuneração inferior. É a velha política da rotatividade para baixar custos e turbinar lucros. Muitos demitidos possuem formação acadêmica às custas dos próprios bancários, pois há bancos, inclusive na mesa de negociações, que ainda se negam a conceder bolsas de estudo.


Aliás, também não procede outra afirmação do representante dos banqueiros de que “os bancos, públicos e privados, ampliam os créditos e financiam a recuperação econômica”. Na verdade, quem garantiu crédito para o enfrentamento da crise foram as instituições públicas, que reduziram juros e spread, sob protestos do presidente do Itaú Unibanco, Roberto Setúbal. Os bancos privados obtiveram uma série de regalias do Banco Central, como a liberação dos depósitos compulsórios, mas retiveram os recursos para investir em títulos públicos, em vez de oferecerem crédito para alavancar a economia.


O negociador da Fenaban se vangloria que os bancários são a única categoria no Brasil que possui uma convenção coletiva válida para os trabalhadores de todos os bancos. Faltou dizer que essa é uma das grandes conquistas dos bancários, alcançada em décadas de lutas com mobilizações e greves. O primeiro acordo nacional, englobando bancos privados e estaduais, foi assinado em 1992. Os bancos federais passaram a subscrever a convenção em 2006, consolidando a unidade da categoria.


O coordenador das negociações da Fenaban admite que o sucesso dos bancos deve-se à “qualidade dos profissionais que informam a atividade bancária”. Suas palavras, no entanto, contradizem a postura dos bancos na mesa de negociações, Para nós, responsabilidade social começa em casa e está na hora de os bancos valorizar quem constrói os seus lucros e os resultados, ampliar e baratear o crédito e prestar serviços mais acessíveis para a sociedade.

Carlos Cordeiro – Presidente da Contraf-CUT