A luta pela igualdade racial

67


Talvez porque as características mais marcantes dos brasileiros sejam o bom humor e a simpatia, existe uma enorme dificuldade em se admitir o racismo da nossa sociedade. Afinal, racismo é uma crueldade inaceitável e ninguém quer ser identificado com tal perversão.  A realidade, no entanto, mostra que o racismo é estrutural em nosso País. Uma herança de vários séculos. E exatamente por isso estimula comportamentos, atitudes e pensamentos de grande parte da sociedade e garante privilégios, maiores ou menores, a determinados grupos, mesmo entre as classes subalternas.


Ignorar, não debater nem buscar soluções para o problema que o Brasil tem em relação à questão racial e a escravidão, só prolonga o sofrimento das vítimas de racismo, que convivem com o preconceito, a falta de oportunidades no mercado de trabalho e salários mais baixos, entre tantos outros problemas.


Acusar as pessoas realmente preocupadas com o combate às desigualdades raciais de racismo, é projetar seu próprio preconceito no outro para fugir covardemente do debate sério e construtivo. Vimos muito essa inversão de valores nos debates sobre as cotas. Por que uma ação afirmativa como essa ainda provoca tanta discussão contrária? Por que é tão difícil entender que cotas para negros é o resgate de uma dívida histórica com essa parcela da sociedade e não um mero problema socioeconômico?


Para nós, a cor da pele não pode, de maneira alguma, determinar o lugar de um cidadão na sociedade. É preciso dar voz e espaço aos negros e às negras e, principalmente, garantir escolaridade, trabalho e renda; e, assim, eliminar de uma vez por todas o preconceito racial da nossa sociedade.


Avanços – Não podemos negar que progredimos nos últimos 10 anos. Os avanços nas políticas voltadas a promoção da igualdade racial, por exemplo, demonstram o impacto positivo das ações afirmativas na autoimagem e na perspectiva de vida dos afrodescendentes, principalmente, os jovens que têm oportunidades que seus pais não tiveram.


Desafios – Todos os dados estatísticos mostram que estamos muito longe de uma equidade racial. Estamos falando de taxas de analfabetismo, salários mais baixos, desemprego ou subemprego.  As desigualdades sociais continuam enormes. Segundo dados da PNAD, entre 2002 e 2012, a participação da população branca entre os pobres caiu 19,6% enquanto que a participação da população negra subiu 8,2%.


Por tudo isso, a Secretaria Nacional de Combate ao Racismo da CUT continuará lutando para combater toda e qualquer forma de discriminação, preconceito e desigualdade, debatendo e implantando ações com o objetivo de que todos os trabalhadores e trabalhadoras possam ser tratados sem discriminação. Um país rico é país sem pobreza e sem racismo!


Vagner Freitas, presidente da CUT e Julia Nogueira, secretária de Combate ao Racismo