No senso comum do brasileiro o aumento da violência aparece como um fenômeno intimamente relacionado com a corrupção, envolvendo promíscuas relações entre o crime organizado com alguns policiais e políticos. Os meios de comunicação de massa têm tido um papel importante na formação desse imaginário. A relação de corrupção com o crime organizado tem sido vista pela população como o principal fator responsável pela violência no País, mais do que qualquer outro, incluindo os de ordem socioeconômica que, sabemos, contribui para o problema. Esta visão torna-se bastante ameaçadora, ainda mais se considerarmos que ela põe em xeque a credibilidade dos poderes e das instituições públicas responsáveis por garantir o bom funcionamento do estado de direito.
Convém mencionar, ainda, que, em alguns casos, o crime organizado passou a ser comandado pelas milícias, nova modalidade de atuação do crime, agora não mais comandado por marginais das próprias comunidades periféricas, mas, sim, por agentes que deveriam zelar pela segurança pública, sendo muitas vezes aliados a políticos para conseguirem impor o controle em várias comunidades. Neste contexto, torna-se urgente que o povo saia do papel passivo de mero espectador diante da violência espetacularizada pela mídia, com notícias que a tornam banal.
Para alterar este cenário de violência a sociedade precisa participar da idealização e implementação de instrumentos de participação democrática que assegurem uma maior fiscalização por parte da sociedade civil organizada, no que se refere às políticas na área da segurança pública do país, de modo a que se promova uma ação coletiva mais articulada com as polícias e os políticos, para que atuem mais efetivamente em prol do bom funcionamento das coisas que dizem respeito aos interesses da vida pública. Assim, ao invés de nos conformarmos, e continuarmos a deixar as coisas como estão, devemos atuar de forma consciente para exigirmos que os nossos interesses (direitos) relativos à qualidade dos serviços públicos no âmbito da segurança sejam por nós conhecidos, debatidos e validados.
Acreditamos que só assim poderão ocorrer mudanças significativas em relação ao nosso futuro comum, que se anuncia trágico enquanto continuarmos conformados e passivos, com medo diante de tanta violência que nos invade o cotidiano. Pois enquanto continuarmos a delegar passivamente o poder aos nossos representantes e a opinião pública continuar se encarregando muito mais em repercutir os escândalos do que as boas iniciativas que alguns políticos se esforçam por realizar em benefício do interesse público, continuaremos a reproduzir o estado de coisas que aí está.
Não será repetindo frases do senso comum como “todo político é corrupto” e “a política corrompe mesmo os que procuram ser honestos”, que conseguiremos superar o problema concreto da violência.
Bruno Meschesi Silva – sociólogo