Alma lavada

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Esta eleição ficará na história como aquela em que houve maior parcialidade da mídia nacional. Nem mesmo em 1989, quando a Rede Globo editou as imagens do debate para favorecer Collor de Mello houve tamanho comprometimento de setores da mídia com uma candidatura e a tentativa de desconstruir outra.


Criminosos com extensa ficha na polícia foram guindados à condição de “empresários” e “consultores”, figuras absolutamente anônimas defensores do obscurantismo e sem nenhuma representatividade social, tiveram espaços nobres para discorrer sobre suas ideias medievais. Notórios tucanos ou demistas eram apresentados como “cientistas sociais”. TFP, Opus Dei e outros celerados que chegaram a defender em passado recente a volta da Monarquia, assessoravam o candidato tucano e tiveram espaços significativos na nossa mídia que se pretende moderna e democrática. Obscurantistas estes que, com certeza, convenceram Serra a beijar a santa.


Num dos piores momentos da campanha de baixíssimo nível de José Serra, foi colocado no seu programa eleitoral cachorros ferozes simbolizando a militância petista, desrespeitando mais de um milhão de cidadãs e cidadãos brasileiros filiados a esta legenda, que contribuíram e contribuem com sua militância voluntária para construção de um País cada vez mais democrático, com inserção soberana no mundo e com justiça social e econômica. A imagem dos rottweilers, entretanto, é mais apropriada para ilustrar o comportamento de alguns articulistas, “analistas” e colaboradores da grande imprensa que – mais realistas do que o rei – destilaram ódio contra o governo Lula, Dilma Roussef, o PT, os aliados e as centenas de organizações sociais que apoiaram a candidata petista.


Articulistas não faziam análise política, nem mesmo de defender José Serra, evidentemente o candidato de todos eles. O principal objetivo era atacar Dilma e tudo aquilo que ela representa, seus aliados e simpatizantes. É assim que aqueles indivíduos destilaram ódios, evidenciaram o seu obscurantismo misógeno e medieval, apresentando-se ao Brasil como “bestas-feras”, exemplos de caluniadores e reacionários preconceituosos.


Acusam-nos de querermos cercear a liberdade de imprensa, de sermos antidemocráticos. Continuaremos – quer gostem ou não – a lutarmos pela democratização dos meios de comunicação, pelo equilíbrio das informações, e do espaço para o contraditório, pela busca da verdade e da informação não distorcida. Continuaremos a lutar para que os meios de comunicação deixem de ser um “Partido da Imprensa Golpista”. A ameaça que pesa sobre a grande mídia nacional, entretanto, não é o controle social da mídia proposta na Conferência Nacional de Comunicação. A ameaça que pesa sobre estes conglomerados é a perda da credibilidade, o abandono dos seus leitores, ouvintes e telespectadores.


Estou com a alma lavada, festejando junto com o povo brasileiro que deu uma banana aos “formadores de opinião” e optaram pela continuidade de um projeto político que trabalha por um Brasil para todos os brasileiros.

João Antônio Felício, Secretário de Relações Internacionais da CUT