Artur Henrique comenta em entrevista a troca de comando no Banco do Brasil

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A Tribuna Bancária reproduz, nesta edição, a entrevista do presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, publicada no Portal do Mundo do Trabalho. Confira a entrevista.

Portal Mundo do Trabalho: Artur, a CUT está a um bom tempo insistindo na queda dos spreads bancários. A troca de comando no Banco do Brasil pode contribuir para o início de um movimento de queda?
Artur: Nós esperamos que sim. É um absurdo que os analistas econômicos e jornalistas levantem críticas ao governo pela demissão do ex-presidente do Banco do Brasil, pois se o fato gerador da troca de comando é a necessidade de reduzir o spread, isso afetaria os lucros e prejudicaria os acionistas e faria com que o banco perdesse espaço nas bolsas de valores. A crítica do mercado e seus analistas – leia-se os responsáveis pela crise – é de que se trata de uma intervenção política no banco. E é mesmo, e assim tem de ser. O primeiro ponto que devemos destacar é o absurdo de se imaginar que toda a sociedade deve pagar para que meia dúzia de acionistas do Banco do Brasil tenham não só lucro – é preciso deixar claro que não achamos que o banco deve ter prejuízo – mas algo que devemos classificar como assalto. Spreads da ordem de 25%, 26% ao ano sobre operações de crédito não são lucro, são extorsão. Segundo, um banco público não pode ser administrado com a mesma lógica de um banco privado, pois como se trata de uma agência de fomento com fundos da sociedade, o papel do Estado deve ser preponderante na definição da missão do banco. A Constituição Federal, é preciso destacar, define o papel social dos bancos em geral, e isso inclui o sistema financeiro todo. Portanto, a queda do spread é urgente para a sociedade e para o próprio governo. Um ponto de partida devem ser os bancos públicos. Quem defende que o governo não deve intervir no Banco do Brasil quer, na verdade, que o sistema financeiro continue batendo recordes nas costas dos trabalhadores e do setor produtivo em geral.

Falando em sistema financeiro, o governo fez um anúncio no mínimo polêmico, dias atrás: emprestar dinheiro ao FMI. Como você analisa essa decisão?
Meu ponto de vista pessoal sobre isso é de que ainda há uma enorme concentração de renda no Brasil, e que há prioridades internas no combate à miséria. Parte desse dinheiro, que os jornais estão anunciando em 4 bilhões e meio de dólares, poderia ser aplicado em programas para reduzir essas desigualdades. Por outro lado, não estamos sozinhos no mundo e é importante participar de esforços para retomar o crédito e o comércio internacionais, se levarmos em consideração os setores exportadores brasileiros, duramente prejudicados pela crise. Mas o problema do FMI é o papel histórico desse fundo e das condições que sempre impôs aos países que a ele recorreram. As velhas receitas do FMI têm de ser rapidamente abolidas, tais como as condicionalidades a respeito de redução do papel do Estado, superávits primários, equilíbrio fiscal para pagamento de juros, queda dos investimentos do governo. Nada disso condiz com o momento que vivemos e com o novo cenário que queremos e precisamos construir. Não há participação social nas decisões do FMI. Para mim, deveríamos investir muito mais na construção de agências de fomento regionais, como o BNDES, que já faz movimentos nessa direção de ocupar espaço no continente, e em entidades como o Banco do Sul. Acho que o próprio Lula deveria dizer isso em alto e bom som nos fóruns internacionais.

As centrais estiveram reunidas com o Lula na semana passada. Como foi o encontro?

Uma das coisas que o Lula disse foi de que o aporte brasileiro para o FMI vai acontecer porque os empréstimos daqui pra frente não estarão sujeitos a condicionalidades como as que citei há pouco. O mais importante foi que, a nosso pedido, ele descartou qualquer proposta de desoneração da folha e garantiu que uma reivindicação da CUT, a de criação de câmaras setoriais para discutir os impactos da crise focadas nos problemas específicos de cada setor, vai finalmente acontecer. Queremos debater periodicamente, e consolidar propostas, através de negociações tripartites. A primeira reunião, com participação dos trabalhadores, deve acontecer nas próximas semanas. A crise atinge diferentemente cada setor, então a elaboração e implementação de propostas devem ser diferenciadas.

Mas o Mantega já havia dito que criaria esses grupos de debate, em reunião com as centrais em dezembro passado…

Pois é, e não criou. Depois disso, as discussões do tal gabinete de crise só contemplaram os empresários. Informado disso, o Lula exigiu que isso mude imediatamente.

Qual será o primeiro setor a ser objeto de discussão nas câmaras?

O da alimentação, que está sofrendo forte impacto da crise. A primeira reunião, repito, deve ocorrer nas próximas semanas. Esperamos que dela já saiam medidas concretas.

Entrevista realizada por Isaías Dalle (CUT)