Assalto no Bradesco Aldeota reabre discussão sobre obrigatoriedade das portas giratórias

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O Sindicato dos Bancários do Ceará realizou na quarta-feira, 21/3, uma paralisação de duas horas na agência do Bradesco Aldeota, no coração financeiro de Fortaleza, em protesto por mais segurança nas agências bancárias do Estado. Somente na terça-feira, 20/3, ocorreram dois ataques a bancos: um num Posto de Atendimento da Caixa Econômica no município de Tianguá (310 km de Fortaleza) e outro na unidade escolhida para a manifestação.


No final do expediente, seis assaltantes armados invadiram a agência do Bradesco na Aldeota, ameaçaram bancários e clientes, mas a ação foi frustrada. Um bandido morreu, outros dois foram presos e nenhum dos reféns sofreu ferimentos. Segundo a Polícia, a ausência de portas giratórias foi um dos critérios de escolha do banco pelos assaltantes.


Após o assalto, imprensa local e sociedade cearense iniciaram um intenso debate a respeito da obrigatoriedade das portas giratórias e da necessidade de mais investimento de bancos e do poder público para implantar mais segurança dentro das unidades bancárias.


No caso da agência do Bradesco Aldeota, os dirigentes do Sindicato fizeram questão de ressaltarar que a unidade, além de não ter porta giratória, sequer colocou biombos próximos aos caixas de atendimento, conforme prevê a lei municipal 9.605, de 26 de janeiro de 2010. “Na nossa avaliação, como dirigentes sindicais, o Bradesco facilita a ação de assaltantes. Não tem portas giratórias, não tem biombos e nós estamos pedindo a compreensão de todos os clientes porque estamos lutando por mais segurança para todos, sociedade e bancários”, disse o diretor do Sindicato e funcionário do Itaú Unibanco, Alex Citó.


Para o diretor do Sindicato e funcionário do Bradesco, Robério Ximenes, bancários e sociedade têm que se unir na luta por mais segurança. “Já houve, este ano, aqui no Estado, morte de policial, morte de cliente em saidinha bancária e o Sindicato dos Bancários está conclamando a sociedade a se envolver nesse processo. Ou nós exigimos que o poder público e os banqueiros invistam em mais segurança e busquem coibir essa violência ou nós vamos ter mais vítimas e isso é muito preocupante”, disse. Ele esclareceu ainda que os bancários lutam pela obrigatoriedade das portas giratórias em todas as agências do País, pela instalação de câmeras de segurança em toda o espaço das agências, inclusive na parte externa, com monitoramento 24 horas, para coibir saidinhas bancárias, além da blindagem das vidraças das unidades e entradas especiais para carros fortes, entre outras reivindicações que estão sendo encaminhadas em nível nacional.


A Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) informou que quatro agências sem portas giratórias foram assaltadas em Fortaleza desde setembro de 2011. O delegado Romério Almeida, titular da DRF, ressaltou a importância da instalação deste tipo de dispositivo de segurança. “Se os bancos querem tirar as portas giratórias, eles precisam investir em tecnologia para encontrar um dispositivo que cumpra a mesma função”, alerta.

Clientes apoiaram ação do Sindicato – Várias pessoas aguardavam na fila o atendimento no Bradesco Aldeota, que só voltou ao normal ao meio dia. Entretanto, apesar da espera, os clientes apoiaram a manifestação do Sindicato. Um cliente antigo do Bradesco que não quis se identificar avaliou que a agência deveria, sim, ter porta giratória. “Com a ausência das portas de segurança, qualquer pessoa pode entrar armada dentro da agência e fazer o que quiser com clientes e funcionários”, disse.


A maioria da clientela concordou que as portas giratórias podem até não evitar os assaltos, mas inibem a ação de assaltantes. Ao final da manifestação, o Sindicato foi aplaudido por aqueles que aguardavam para entrar na agência.

Obrigatoriedade – A necessidade de instalação das portas detectoras de metais é motivo de polêmica há anos e deve ganhar força agora, com a chegada da minuta de projeto de lei à Câmara Municipal, que pretende tornar obrigatório o uso desse instrumento nos bancos. O Presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Acrísio Sena (PT) afirmou que o projeto deve começar a tramitar na Casa em breve, após uma série de discussões e audiências públicas sobre a necessidade de instalação do equipamento. “Essa lei é de natureza complexa e trará polêmica. Mas, mais do que isso, trará benefício para a população. Além do mais, ela é totalmente exequível com o lucro dos bancos. Está mais claro do que nunca que as portas eletrônicas são imprescindíveis para garantir a segurança da população”, concluiu.


Uma lei nesse sentido foi aprovada em 17 de fevereiro de 1994, a Lei 7.274, mas foi suspensa através de uma liminar requerida pela Federação Brasileira das Associações de Bancos (Febraban) à Justiça.


Para o presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, os bancos estão fazendo “economia em detrimento da proteção à vida de clientes e trabalhadores”. Carlos Eduardo explica que a falta desses equipamentos facilita a ação dos bandidos, pois diminuiu a fiscalização da entrada de armas nas agências. De acordo com ele, a retirada das portas giratórias se deu principalmente na última década. “Em Fortaleza, quase nenhum banco hoje tem. Assim, a facilidade é muito grande. Isso não pode continuar”, desabafa.


O presidente do Sindicato explica que a instalação do equipamento não é obrigatória, de acordo com a Lei Federal 7.102, de 1983. O uso é opcional, assim como o das câmeras de segurança. Segundo a lei, é obrigatória apenas a instalação de alarme e a presença de vigilantes dentro das agências. Por conta disso, o Sindicato apresentou um Projeto de Lei (PL) que obriga a instalação das portas nos bancos da Capital.


Com os recentes assaltos a bancos no Estado, Carlos Eduardo afirmou que já foi pedido, aos vereadores, que votem o projeto em regime de urgência. Até agora já foram contabilizados 22 ataques a banco em todo o Ceará em 2012, dos quais seis foram somente em Fortaleza. Carlos Eduardo denuncia ainda que os bancos não vêm cumprindo a Lei que proíbe o uso de celular dentro das agências bancárias. “Além disso, poucos já instalaram os biombos de segurança”, completa.