Subiu o percentual de famílias que avaliam ter alimentos suficientes ao final do mês, de acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento foi feito em 55.970 domicílios no País. O percentual de famílias que avaliam ter alimentos suficientes para chegar ao fim do mês é de 64,5% (2008-2009), superior aos 53% da pesquisa feita em 2002-2003.
No entanto, o levantamento destacou que permaneceram algumas diferenças regionais. No Norte e no Nordeste, 50% das famílias reclamaram de insuficiência na quantidade de alimentos consumidos. No Sul e no Sudeste, o percentual é quase a metade: 23% e 29%, respectivamente.
Por meio de um questionário subjetivo, a pesquisa, que analisa a composição da renda e dos gastos dos brasileiros, também estudou a percepção da população sobre aspectos da qualidade de vida. Sobre a capacidade de chegar ao fim do mês com a própria renda, item que também foi avaliado na POF, as famílias estão insatisfeitas: 75% assumiram ter “algum grau de dificuldade”. Na classe mais baixa (de até R$ 830,00 por mês), 88% indicaram alguma dificuldade e 31,1%, muita dificuldade. Por outro lado, dos 4% de famílias do País com rendimento maior que R$ 10.375,00, apenas 2,6% contaram ter “algum grau de dificuldade”, contra 72% de facilidade.
TRANSFERÊNCIAS – A POF constata que transferências governamentais e intrafamiliares têm o segundo maior peso na composição da renda dos brasileiros, formada prioritariamente pelo rendimento do trabalho.
A renda oriunda do trabalho compõe 61,1% do rendimento total das famílias (R$ 2.641,00), chegando a R$ 1.688,00. A segunda maior participação nessa composição é a das transferências (18,5%), que incluem as aposentadorias e pensões governamentais, pensões públicas e privadas, bolsas de estudos, além de programas de transferência de renda do governo federal.
Realizada entre nos anos de 2008-2009, a POF revela que as aposentadorias e pensões representaram mais de 80% das transferências, sendo que 55% vinham do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Os programas do governo somavam 3%.
BRANCOS E NEGROS – Segundo o IBGE a diferença de valor das despesas mensais entre as famílias chefiadas por pessoas brancas e por pessoas negras foi acentuada. Enquanto a despesa média do brasileiro é de R$ 2.626,00, a de famílias cuja pessoa de referência (quem respondeu a pesquisa) era branca, o gasto era 28% maior, de R$ 3.371,00. Também era 89% superior às despesas de famílias de negros (R$ 1.783,00) e 79% maior que a de pardos (R$ 1.885,00).
Em relação ao levantamento anterior, feito entre 2002 e 2003, as desigualdades aumentaram. Percentualmente, passaram de 82% para 89% em relação às famílias pretas, embora tenha diminuído de 84% para 79%, destaca a POF de 2008/2009. As diferenças entre as despesas também apareceram quando há diferença de gênero.
Se a pessoa que respondeu a pesquisa era um homem, a despesas mensal era de R$ 2.800,16 (também acima da média nacional), enquanto os gastos de famílias chefiadas por mulheres era de R$ 2.237,14.
O responsável pela pesquisa, José Mauro de Freitas destaca que a diferença entre o extrato feminino e masculino aumentou de 15% para 20% entre uma pesquisa e outra. Para ele, a explicação está na estrutura da sociedade, assim como para o caso das diferenças entre as raças.
A POF também avaliou os impactos da escolaridade sobre os gastos das famílias e constatou diferença de 207% entre os gastos das famílias cuja a pessoa de referência tinha mais de 11 anos de estudo (R$ 4.314,92) e as que o chefe tinha menos de um ano (R$ 1.403,42). O aumento da despesa também está relacionado ao fato de as famílias terem algum integrante com nível superior completo. Entre essas, o rendimento saltava para R$ 4.296,05, enquanto nas que ninguém tinha terminado uma faculdade os gastos eram de R$ 1.659,99.