Bancários vão à greve por melhores salários, PLR e condições de trabalho

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Os bancários reunidos em assembleias realizadas na última quarta-feira, 12/9, em todo o País, deflagraram greve por tempo indeterminado a partir do dia 18, porque os bancos, apesar de formarem o setor mais sólido e lucrativo da economia, não apresentaram até agora uma proposta decente que contemple as reivindicações da categoria.


A quase totalidade dos acordos salariais assinados no primeiro semestre em setores econômicos menos lucrativos que o financeiro teve aumentos reais. Os ganhos dos trabalhadores desses segmentos chegaram a mais de 5% acima da inflação. É um gritante contraste com o 0,58% de aumento real proposto pela Fenaban aos bancários.


Os seis maiores bancos, que empregam mais de 90% da categoria, lucraram R$ 25,2 bilhões somente no primeiro semestre. E ainda provisionaram R$ 39,15 bilhões para devedores duvidosos (PDD), 64,3% a mais que o lucro líquido. É um disparatado truque contábil para uma inadimplência que cresceu apenas 0,7 pontos percentuais no mesmo período.


Com essa maquiagem nos balanços, diminuindo artificialmente os lucros, as instituições financeiras apresentaram proposta que reduz a PLR da categoria. Para fugir dessa armadilha, os bancários reivindicam uma nova forma de cálculo da PLR, equivalente a três salários mais R$ 4.961 fixos. Mas os banqueiros rejeitam.


Ao também negarem reajuste decente no piso, os bancos mais uma vez demonstram ganância excessiva e falta de respeito em relação àqueles que produzem os seus resultados fantásticos.


Pesquisa realizada pela Contraf-CUT junto a entidades sindicais sul-americanas mostra que o piso salarial dos bancários brasileiros é um dos mais baixos no continente. Enquanto os bancos pagam piso de 1.090 dólares no Uruguai e de 1.200 dólares na Argentina, aqui no Brasil é de apenas 681 dólares (ou seja, R$ 1.400). Isso significa que o piso do bancário hoje é 58% do salário mínimo do Dieese de R$ 2.416, o que está sendo reivindicado.


Os banqueiros recusam-se ainda a discutir o emprego e mecanismos que dificultem as demissões imotivadas, além do fim da rotatividade, política deliberada que eles empregam para fechar postos de trabalho e reduzir a massa salarial da categoria.


Nos últimos oito anos, os bancários conquistaram com grandes mobilizações e greves 13,9% de aumento real nos salários e 31,7% no piso. Mas a média salarial da categoria cresceu apenas 3,6% nesse período, em razão da rotatividade, pela qual bancários com salários mais altos são demitidos para a contratação de outros com remuneração mais baixa, principalmente nos bancos privados. É preciso pôr um fim a esse mecanismo nefasto, que não existe em outros países, só no Brasil.


Ao contrário desse tratamento de arrocho para com os trabalhadores, os bancos aumentam de forma desproporcional a remuneração já milionária de seus altos executivos. É uma premiação àqueles encarregados de promover a redução de custos com enxugamentos de salário e emprego, de fixar as metas abusivas, incentivar o assédio moral e investir pouco em segurança.


Segundo dados fornecidos pelas próprias instituições financeiras à CVM, a remuneração média dos diretores estatutários de quatro dos maiores bancos em 2012 será 9,7% superior à do ano passado, o que significa um aumento real de 4,17%. Assim, cada um desses diretores do BB receberá este ano mais de R$ 1 milhão, os do Bradesco embolsarão R$ 4,43 milhões, os do Santander R$ 6,2 milhões e os do Itaú R$ 8,3 milhões cada um.


É essa diferença de tratamento entre a base e o topo da pirâmide social que dá ao Brasil papel de destaque em um vergonhoso ranking: é um dos 12 países mais desiguais do planeta e o quarto com a pior distribuição de renda na América Latina.


Agindo com essa irresponsabilidade, os banqueiros boicotam o novo Brasil que queremos construir – um País desenvolvido, mais justo e solidário.


Como sempre, estamos abertos ao diálogo e apostamos na valorização do processo de negociação. Mas a Fenaban, em quatro rodadas duplas de negociação, apresentou uma única proposta, com a provocação do 0,58% de aumento real e nada mais no piso, na PLR e no emprego – contrastando com a gorda remuneração dos altos executivos.


No dia 5 de setembro, o Comando Nacional enviou carta à Fenaban informando sobre o calendário de mobilização e reafirmando a importância de se buscar um acordo negociado. Mas até agora os bancos não deram nenhuma resposta.


Assim como nos colocamos abertos ao diálogo, estamos também preparados para defender nossos direitos e nossa dignidade, recorrendo à greve a partir do dia 18 se continuarmos sendo tratados com esse desrespeito.


Para isso, é fundamental agora que a categoria bancária mantenha a unidade nacional. Precisamos caminhar juntos, nos bancos públicos e privados, para buscarmos o aumento real e ampliarmos as conquistas. Nossa unidade e mobilização são as principais armas contra os banqueiros.


Foi com essa estratégia que os bancários fizeram em 1985 a maior greve da história da categoria, abrindo caminho para a conquista da Convenção Coletiva de Trabalho, que está completando 20 anos. Foi com o mesmo espírito de unidade que a categoria conquistou aumento real nos últimos oito anos. Mais uma vez a união será decisiva para a nossa mobilização e para as novas conquistas.


Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional dos Bancários