Banco Palmas: exemplo de economia solidária

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Silas Pinheiro vende, na loja de que toma conta, o artesanato que produz. Essa loja é a Central Palmas de Comercialização, que também vende produtos de outros produtores de dentro do bairro. Produtores como Dacília Lima, que cuida da grife popular PalmaFashion. Além de vender, Silas e Dacília também compram de outros produtores, que também compram deles. Essa é a rede de economia solidária que se instituiu após a criação do Banco Palmas num bairro periférico de Fortaleza, o Conjunto Palmeiras.

A partir de 1973, moradores de várias áreas de Fortaleza migraram para uma região pantanosa da cidade e fundaram o Conjunto Palmeiras, que era uma favela sem infra-estrutura, esquecida pelo poder público. Com a criação da Associação de Moradores do Conjunto Palmeiras (Asmoconp) em 1981, muita coisa começou a mudar. A população passou a reivindicar por políticas públicas, o que resultou em melhores condições de moradia para a comunidade.

Mas a urbanização do bairro tornou o custo de vida bastante elevado, devido a impostos e a serviços básicos, como água e luz. E agora o problema era econômico. Foi aí que em 1998 a Asmoconp decidiu criar o Banco Palmas, como forma de geração de renda dentro do Palmeiras. O bairro atualmente produz e consome seus próprios produtos de primeira necessidade. E essa riqueza vem de onde? Da força de trabalho dos “prossumidores” (produtor e consumidor) do bairro, que antes era pouco cultivada. O trabalho de homens e mulheres substituídos pela tecnologia de ponta das indústrias ganha papel fundamental na economia solidária.

Para a professora Neyara Araújo, do Departamento de Ciências Sociais da UFC, a economia solidária surge como uma possibilidade histórica de superação do sistema capitalista. “Ela surge como reação à última crise do capitalismo, a estrutural. O trabalho vivo (o do ser humano, substituído pelo da máquina) não tem mais espaço na sociedade capitalista. A economia solidária reinventa esse trabalho”.

Para a professora, a economia solidária surge dentro do capitalismo, mas aponta para fora. “É uma forma de se construir um socialismo, uma nova forma de relação de trabalho. Mas isso está em construção”. Neyara avalia que a economia solidária possui problemas, e eles aparecem na relação que ela estabelece obrigatoriamente com o sistema maior, o capitalista.

“Eu costumo usar a analogia do barquinho no meio do oceano”, analisa o coordenador do Banco Palmas, Joaquim Melo, que desde a década de 80 milita nos movimentos populares de Fortaleza. Para Joaquim, a maior dificuldade do projeto é criar na comunidade a cultura da solidariedade, pelo fato de o bairro estar inserido numa cultura maior, a da competição.

Para que a riqueza produzida no bairro circule nele mesmo, foi criada a moeda local própria, o Palmas, que equivale ao Real. Restaurantes, mercadinhos, oficinas e até uma linha de transporte alternativo (Topic) aceitam pagamento em Palmas. “A gente negocia com os comerciantes para que eles aceitem pagamento em Palmas e no Palmacard (cartão de crédito) e cobrem mais barato pela venda em Palmas. Se você compra um botijão de gás em Palmas, ao invés de pagar 32 reais, você paga 30 Palmas. A moeda local acaba sendo valorizada e o comércio ganha fidelidade”, avalia a gerente financeira do Banco Palmas, Jaqueline Dutra.

Enquanto o capitalismo financeiro especula sobre os rendimentos de ações, a economia solidária aposta na força do trabalho do ser humano como forma de produção de riquezas para o próprio trabalhador. A economia solidária ganha cada vez mais força mundialmente. No Brasil, são em média 15 mil experiências. “A gente ainda não ameaça a grande economia, mas é uma sementinha que, de baixo para cima, vai transformando a sociedade”, conclui Joaquim.