Banqueiros não apresentam nada sobre remuneração

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“Pelo que estamos percebendo, o banqueiro só entende mesmo a linguagem da pressão e da greve”. Essa foi a análise do presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra, ao final de mais uma rodada de negociação entre o Comando Nacional e a Fenaban sem qualquer proposta concreta para a categoria, realizada no último dia 12/9, em São Paulo. “Diante de tanta enrolação e tantas negativas, o que nos resta fazer é nos mobilizarmos para mostrar nossa força e dizer aos banqueiros que não estamos aqui para brincar de negociar. Se preciso for, vamos à greve para garantir nossas conquistas”, convoca.


Em mais uma demonstração de desrespeito e enrolação, a Fenaban negou todas as reivindicações apresentadas pelos bancários em relação aos itens de remuneração da pauta da categoria. Na reunião, o Comando Nacional dos Bancários, coordenado pela Contraf-CUT, cobrou, entre outros pontos prioritários, reajuste salarial de 12,8% (inflação do período mais aumento real de 5%), PLR de três salários mais R$ 4.500, piso do Dieese (R$ 2.297,51 em junho).


A Fenaban também recusou a valorização do vale-refeição, cesta-alimentação, 13ª cesta-alimentação e auxílio creche/babá, no valor do salário mínimo, hoje em R$ 545,00, bem como rejeitou a implantação de Plano de Carreiras, Cargos e Salários (PCCS) e de planos de previdência complementar em todos os bancos. Como se não bastasse, os banqueiros negaram o pagamento de salário substituto e a gratificação semestral de 1,5 salário para todos os bancários.


“É inadmissível que o setor financeiro com ganhos tão elevados se negue a valorizar os seus funcionários, enquanto altos executivos ganham até 400 vezes mais do que o piso do bancário. O Brasil está entre os dez países com a pior distribuição de renda do mundo e, para mudar essa situação, é necessário aumentar salários”, afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT e coordenador do Comando Nacional. “O discurso de que os bancos não podem elevar os seus custos não convence ninguém. Os maiores bancos do País lucraram mais de R$ 25 bilhões somente no primeiro semestre de 2011”, sustenta.


Essa foi a terceira rodada de negociações da Campanha Nacional 2011. Nas duas primeiras rodadas, foram discutidos os temas de emprego, igualdade de oportunidades, saúde do trabalhador, segurança bancária e questões sociais. Até agora, nada foi apresentado de concreto.


“A Fenaban já está há um mês com as demandas dos bancários e, em três reuniões, discutindo as reivindicações da Campanha Nacional, os banqueiros não aceitaram nenhuma de nossas demandas e não apresentaram nenhuma proposta concreta”, lamenta Cordeiro. “É uma sinalização muito ruim que revela um profundo descaso com quem produz os resultados fabulosos dos bancos”, sustenta.


Uma nova rodada de negociação ficou agendada para o próximo dia 20/9, terça-feira, em São Paulo. A Fenaban prometeu apresentar uma proposta global para a categoria. “Esperamos que os bancos venham com uma proposta concreta que contemple as reivindicações da categoria, envolvendo remuneração digna, emprego, saúde, condições de trabalho, segurança e igualdade de oportunidades”, alerta Carlos Cordeiro.


“A postura intransigente dos bancos, que não apresentaram propostas para garantir emprego decente, aposentadoria digna, aumento real, mais empregos, fim da rotatividade e combate à terceirização, dentre outras demandas, está aumentando a insatisfação dos bancários e intensificando a mobilização e a unidade nacional da categoria”, afirma Carlos Eduardo. “É um absurdo essa posição dos bancos de não trazer nenhuma proposta e apostar na greve. A categoria deve mostrar que não vai aceitar essa postura e fazer uma campanha ainda mais forte que a de 2010, quando realizou a maior greve dos últimos 20 anos, arrancou aumento real pelo sétimo ano consecutivo e a maior valorização do piso”, completa.

NA MESA DE NEGOCIAÇÃO

AUMENTO REAL
para os negociadores dos bancos, os bancários já estão há sete anos com aumento real e que não esperem ter um salto na remuneração. O Comando destacou que o lucro dos bancos sempre dá saltos gigantes, assim como o volume de serviço dos trabalhadores. Dentre as dez empresas mais lucrativas do País em 2010 cinco eram bancos. Os bancários querem aumento real como tiveram 85% das categorias até agora. Querem ganhar como ganharam os banqueiros.

VALORIZAÇÃO DO PISO
para a Fenaban o piso dos bancários é alto, teve reajuste extraordinário em 2010 e que este ano a correção será igual à dos salários. Os representantes dos bancos acham que não dá para pensar que todo ano haverá reajuste diferenciado para o piso. O Comando destacou que apesar de o Brasil ser a sétima economia do mundo, a desigualdade é grande – só perde para o Haiti, Bolívia e Equador na América Latina. No caso dos bancos, os executivos chegam a ganhar 400 vezes mais que o piso dos bancários, isso só acontece no Brasil e tem de ser combatido.

VALES REFEIÇÃO, ALIMENTAÇÃO, 13ª CESTA E AUXÍLIO-CRECHE BABÁ

Fenaban avisou que não pretende dar reajuste diferente dos salários e disseram que é ruim colocar mecanismo de correção como salário mínimo. Bancários aceitam discutir mecanismo, mas querem debater valor atual, que não dá pra fazer supermercado nem refeição diária. Para eles, os tíquetes são auxílio, e não devem cobrir a integralidade dos gastos. O Comando ressaltou que o reajuste diferenciado desses itens foi apontado em consulta como extremamente importante pelos trabalhadores.

PLANO DE CARREIRA, CARGO E SALÁRIO (PCCS)
a resposta é não. Para Fenaban isso deve ser feito por acordo com cada banco, não querem colocar em Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Comando cobrou transparência, já que os bancários não conhecem os PCCS dos bancos onde trabalham. Como os próprios técnicos da Fenaban afirmaram em seminário da entidade, os PCCS são caixa-preta. Para o Comando, os maiores interessados, os bancários, têm de saber como funciona.

SALÁRIO DO SUBSTITUTO

também disseram não à reivindicação de o bancário

receber salário correspondente ao cargo que estiver substituindo. Bancos veem como favor, oportunidade para o trabalhador. Para o Comando, isso é exploração. O bancário acumula a responsabilidade do serviço, tem capacidade e deve ganhar por isso.

AUXÍLIO-EDUCAÇÃO

Fenaban diz que é política de cada banco e não querem colocar na CCT. Comando insistiu porque essa é uma cobrança do setor e pré-condição para a seleção dos funcionários.

PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS

bancários querem três salários mais R$ 4.500,00, considerado modelo mais justo e mais claro. E cobraram maior distribuição dos altos lucros, não compensação dos programas próprios, pagamento aos afastados e aos que participaram do exercício, além da discriminação dos valores (o que é PLR e o que é programa próprio). Fenaban quer continuar compensando e não quer mudar modelo. Vai discutir com bancos a possibilidade de discriminar valores.

PLANOS DE PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR

para Fenaban cada banco faz como acha que deve ser e se recusa a colocar na CCT. O Comando debateu a importância de o bancário ter direito a se aposentar com dignidade, sem queda na remuneração e sem perder o plano de saúde. Os bancos consideram isso problema do Estado, mas Comando lembrou que executivos têm tudo isso garantido pelas instituições financeiras quando se aposentam.