O Brasil deve aproveitar a oportunidade de transição da economia para um desenvolvimento que prioriza a sustentabilidade para se tornar uma liderança mundial, afirmou o presidente do Ipea (Instituto de Política Econômica Aplicada), Márcio Pochmann. “O Brasil tem as condições concretas para construir, neste século, um protagonismo inédito do ponto de vista da concepção de um desenvolvimento que não seja apenas econômico e social, mas que tenha capacidade de sustentar do ponto de vista da reprodução humana e do bem-estar social”, afirmou o presidente do Ipea.
Pochmann disse que há uma convergência nacional, “e até internacional”, de que chegou o momento brasileiro. Chamou a atenção para o fato de que, desde a crise de 1929, esta é a primeira vez em que a recuperação econômica mundial é puxada pelos países em desenvolvimento e não mais pelos países ricos. Entre eles, citou a China, Índia e Brasil. “Isso inspira a perspectiva de o Brasil vir a se transformar na quinta economia do mundo, possivelmente ao final da próxima década em que estamos ingressando”.
O desafio não é voltar a crescer de forma mais rápida, mas combinar o crescimento com um melhor bem-estar social e, sobretudo, ambiental. Ele sublinhou que, além de crescer economicamente, o Brasil deve se transformar também na quinta melhor sociedade, do ponto de vista do padrão de bem-estar social. Um dos desafios continua sendo a educação. Do ponto de vista quantitativo, o problema da universalidade da educação está resolvido, mas não do ponto de vista qualitativo, observou Pochmann.
Outro desafio é a questão demográfica. “Se queremos ter um padrão de bem-estar adequado para as pessoas que vão envelhecer nos próximos anos, significa, fundamentalmente, o Brasil elevar a sua produtividade”. Explicou que a produtividade pressupõe um projeto de desenvolvimento econômico e também elevação da educação e da tecnologia, a fim de preparar melhor as pessoas para o trabalho e para a própria vida.
A percepção de novos valores faz parte de uma mudança cultural do ponto de vista da integração nacional. Pochmann não vê problemas estruturais que impeçam o Brasil de ter crescimento sustentável de longo prazo a taxas muito maiores das que temos atualmente. “O Brasil cresce acima de 4%. Na década de 90, cresceu em torno de 2%. Não vejo problemas em nós crescermos a 6% ou 7% ao ano porque, do ponto de vista do reconhecimento, nós somos um país ainda em construção”. Afirmou que crescer mais rapidamente ajuda o País a enfrentar o problema da geração de empregos.
Para Pochmann, a questão ambiental ganha cada vez uma maior dimensão na sociedade moderna e exige uma intervenção pública mais importante. A competição pressupõe redução de custos e isso vem a partir de investimentos ecológicos, assinalou. Nesse sentido, defendeu um reforço da regulação e maior taxação de impostos para segmentos que degradam o meio ambiente, além de substituição das formas de produção não sustentáveis, por meio de tecnologias avançadas.