Cadê a reforma do sistema financeiro?

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O governo do presidente Lula costuma apanhar da grande mídia muito mais pelas suas qualidades que pelos defeitos. O rompimento com a política de servilismo aos Estados Unidos na política externa, a redistribuição de renda, diminuindo uma desigualdade que ainda permanece indecente, a descriminalização dos movimentos sociais, os programas de combate à pobreza, a atuação da Polícia Federal em quadrilhas instaladas há muito tempo nos diversos níveis de governo e o fim das negociatas da privatização. Considerando que o atual governo é de disputa, em que diversos setores da sociedade e partidos estão representados, o que não permite, por exemplo, a aplicação pura de todos os projetos gestados pelo PT, há setores que poderiam ter avançado muito mais.


Com a ressalva de que chegar ao governo não é o mesmo que chegar ao poder, o governo Lula foi, no mínimo, omisso em relação ao sistema financeiro nacional. Se outros setores avançaram, o combate aos altos preços cobrados pelos bancos dos clientes em tarifas e mais tarifas, as indecentes filas e os péssimos serviços prestados continuaram no setor que é símbolo do que há de mais atrasado na sociedade. Além disso, a lógica rentista manteve-se, permitindo acumulação cada vez maior de capital e recorde de lucro atrás de recorde de lucro.


Mais ainda, em lugar de reformar e regulamentar o sistema financeiro, para que cumpra sua função social e financie o desenvolvimento do País, o governo adotou nos bancos públicos a lógica do mercado, de diminuir custos e buscar apenas rentabilidade.


No caso do Banco do Brasil, por exemplo, parece que o governo Lula não tomou posse até hoje. Além de a empresa adotar a lógica dos bancos privados, de redução de custos, substituição de funcionários antigos por novos, há ali uma direção vinda da burocracia que se sentiria muito bem em governos como os dos ex-presidentes Fernando Henrique ou José Sarney.


Mas ainda dá tempo e há muito o que fazer. Um governo democrático e popular como o do presidente Lula pode deixar sua marca em aspectos estruturais, como a regulamentação do sistema financeiro nacional – que o lobby dos banqueiros sempre impediu – e a ampliação do Conselho Monetário Nacional – que a CUT e outras entidades já apresentaram, para que a sociedade tenha acesso e influencie as decisões econômicas. Esses são apenas exemplos de uma extensa agenda para um sistema financeiro mais democrático. Estamos dispostos a contribuir para quebrar essa cunha que impede que o País se desenvolva.


Por último, mas não menos importante, os trabalhadores do sistema financeiro estão fazendo sua campanha nacional em busca de melhores salários, condições de trabalho, saúde, enfim, de uma vida digna. Ao mesmo tempo que se buscam melhores condições de vida para os trabalhadores do sistema que mais lucra neste País, é necessária a luta conjunta com toda a sociedade para melhorar o atendimento, diminuir as taxas indecentes de juros, acabar com o desrespeito das filas. Enfim, buscar que o sistema beneficie o País, sua população e seus empregados.


A lógica de apenas aumentar lucros e acumular riquezas para banqueiros nacionais e internacionais tem de ser quebrada se quisermos que esse País tenha um futuro melhor e mais justo para todos nós e as gerações que virão.

Vagner Freitas

Presidente da Contraf-CUT