CARPE DIEM! APROVEITE O SEU DIA!

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A opressão, a falta de liberdade abordada no excelente filme de Peter Weir (1989) é aquela opressão vivida pelos jovens de classe média da geração anterior, ou seja, a geração dos anos sessenta. Eu era o jovem dos anos oitenta. Entretanto, como fui pobre e meus pais pertenciam à grande massa de excluídos dos anos oitenta daquele Brasil para poucos – para os sócios da ditadura militar –, não tive aquela opressão juvenil retratada no filme para ser médico, engenheiro ou advogado. Fui trabalhador braçal juvenil, assim como quase todos de minha geração dos oitenta. E nos noventa virei trabalhador bancário.


A mensagem do filme Sociedade dos Poetas Mortos nos tocou muito na época. A nós, jovens miseráveis dos anos oitenta, nos encheu de desejos a tal ideia do CARPE DIEM, pois também queríamos viver o presente e sermos felizes. Hoje, a questão dos ideais juvenis me parece bastante diferente e também não quer dizer que a minha impressão seja a regra. Me parece que eles não querem fazer nada. Nada.


Carpe diem! Aproveitar o dia virou algo como estar em jogos eletrônicos ou redes sociais 24 horas por dia, numa não-vida virtual. Carpe diem! Quando ando e vejo quase 90% das pessoas em seus mundos particulares com seus fones de ouvidos no trem, metrô, bikes, a pé, em grupo mas com fone, eu me desespero. Até acho que esta geração ainda atenda a chamados de suas redes ou grupos para alguma coisa coletiva, alguma atividade, mas é tudo muito desvinculado ou episódico. Não muda nada da vida real.


O capitalismo do século XXI está acabando com o valor social do trabalho. Algumas empresas mandam nos poderes instituídos – executivos, legislativos, judi-ciários e meios de comunicação – e de fato brincam com o mundo, o mundo geográfico e o humano. O mundo do trabalho caminha a largos passos para ser mundialmente precarizado, informal, desregulamentado e sem direitos sociais.


Carpe diem! Hoje, grande parte dos jovens já têm a liberdade de escolha. E nós não estamos conseguindo aglutinar os jovens para a mãe de todas as lutas. Lutar pelo direito ao trabalho decente e de remuneração justa com direitos sociais. Luta contra a terceirização, contra o assédio moral e as más condições de trabalho.


Meu desejo é organizar os jovens poetas para a mudança do mundo real. Que nossos jovens poetas aglutinem jovens trabalhadores, estudantes e militantes para atuar junto ao Sindicato contra as reestruturações produtivas do capital – no nosso caso o financeiro – que quer nos retirar todos os direitos conquistados em um século de lutas.


Convido os jovens bancários e bancárias, e os experientes também, a participarem dessa luta conosco. Os bancários e os sindicatos terão que enfrentar lutas mais intensas a cada dia contra os banqueiros públicos e privados, para mantermos o nosso direito de existir, existir com direitos e condições decentes.

William Mendes – Secretário de Formação da Contraf-CUT