Cartão corporativo e “mídia esgoto”

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A escalada agressiva do denuncismo se volta diretamente contra o próprio presidente Lula, que às vezes se finge de morto diante dos ataques da oposição de direita e da mídia e cede às pressões. O jogo é pesado e gera corrosivas conversas nas ricas camadas médias – que, segundo recente pesquisa, ainda endeusam a mídia e preferem pensar com a cabeça dos seus donos. A ofensiva confunde até parcelas progressistas da sociedade. A marcha udenista é arrasadora e intensa e pode resultar, segundo líderes da oposição liberal-conservadora, numa nova crise política e na instalação de outra CPI. É tudo o que a direita golpista, confusa e rachada, deseja para desgastar o governo Lula num ano eleitoral.


Nesta brutal ofensiva, o que menos vale é a informação imparcial e a justa fiscalização do poder público. O objetivo não é denunciar os abusos e deslumbramentos dos governantes, visando a sua correção – como afirmam alguns ingênuos ou oportunistas –, mas sim fortalecer a oposição de direita.


Frente às despesas corriqueiras, o cartão corporativo é um avanço, que, evidentemente, necessita sempre de ajustes. Ele foi criado em 2001, na gestão de FHC, devido às denúncias da falta de controle dos gastos. Antes, um ministro recebia a quantia em dinheiro, depositava na sua conta, pagava as despesas e depois apresentava a nota. Não havia qualquer transparência. Através do decreto nº. 5.355, de janeiro de 2005, o governo Lula ainda procurou regulamentar melhor o uso do cartão. Segundo o decreto, ele pode ser usado na “aquisição de materiais e contratação de serviços”, na compra de passagens aéreas, locação de veículos e no pagamento de hotéis, refeições e diárias de viagem. É proibido utilizá-lo em viagens internacionais. Outro importante avanço é que atualmente todos os dados das despesas estão disponibilizados na internet, através do Portal da Transparência, implantado em 2004, no governo Lula.


Mídia tucana e gastos de FHC – Estas e outras informações, decisivas na formação da opinião pública, não têm destaque nos noticiários. Além de tratar o tema como um escândalo político, a mídia hegemônica esbanja parcialidade. O “jornalismo esgoto” e descaradamente tucano também não deu manchetes aos dados da CGU sobre os gastos do governo FHC com suprimento de fundos (que envolvem os cartões corporativos). Eles foram de R$ 213,6 milhões, em 2001, e de R$ 233,2 milhões, em 2002. No governo Lula, eles foram reduzidos e se mantêm, nos últimos cinco anos, a média anual de R$ 143,5 milhões.


Diante desta passividade, os blogs dão munição para ajudar na batalha de idéias. Lembram, por exemplo, que a filha de FHC, que era funcionária da presidência, utilizou um avião da FAB para vistoriar as fazendas do pai e nunca prestou contas da despesa; que outro filho, Paulo Henrique, gastou R$ 10 milhões dos cofres públicos para montar um stand numa feira na Alemanha; e que ministros tucanos, como José Serra e Raul Jungmann, fizeram viagens de turismo com verbas públicas. Investigando o Portal da Transparência constata-se uso do cartão corporativo por seguranças de FHC – a lei garante a regalia aos ex-presidentes. Somente em 6 de agosto de 2007, o servidor Eduardo Sacillotto encheu quatro vezes o tanque do carro de FHC.

Altamiro Borges, jornalista, editor da Revista Debate Sindical