Centrais Sindicais realizam plenária pela redução da jornada de trabalho

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A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Central dos Trabalhadores Brasileiros (CTB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Força Sindical realizaram, na segunda-feira dia 14/9, na sede do Sindicato dos Bancários do Ceará, café da manhã e uma plenária pela redução da jornada de trabalho sem redução de salário. O evento contou com a participação do deputado federal Chico Lopes (PCdoB), relator da PEC 291/95 na Câmara, e do senador Inácio Arruda (PCdoB), autor do projeto. Estiveram presentes também os deputados estaduais Nelson Martins (PT) e Lula Morais (PCdoB), os deputados federais Eudes Xavier (PT) e José Airton (PT), além de outros representantes do PT e do PCdoB e de vários sindicatos, como comerciários, vigilantes, jornalistas e professores.


A PEC 231/95 reduz a jornada semanal de trabalho de 44 para 40 horas, sem redução de salário, e aumenta o adicional da hora extra de 50% para 75% sobre o valor da hora trabalhada. A proposta foi aprovada por unanimidade pela Comissão Especial da Jornada Máxima de Trabalho e precisa ser votada em dois turnos pelo Plenário da Câmara, com 2/3 dos votos, para ser aprovada, o que corresponde a 342 votos a favor. O mesmo procedimento será exigido no Senado.


Países como o Canadá e a Austrália têm uma jornada semanal de, aproximadamente, 32 horas. A vitória na luta pela redução da jornada semanal de trabalho é aguardada com anseio pelo movimento sindical, pois o mundo da produção ganhou em escala de produtividade, mas os trabalhadores não tiveram participação ativa nesses ganhos e não houve a diminuição das horas de trabalho, apesar da implementação da robótica e toda a tecnologia. Com a redução da jornada, os trabalhadores vão participar desses ganhos e podem ser gerados mais de 2,5 milhões de empregos, segundo cálculo do Dieese.


O senador Inácio Arruda, redator do projeto em parceria com o também senador Paulo Paim (PT), está otimista com relação à aprovação da PEC. Ele destaca que esta luta vem desde 1987, quando durante a Assembleia Nacional Constituinte, numa grande frente, os trabalhadores lutaram intensamente pela jornada de 40 horas. “Nós colocamos a matéria na ordem do dia na Câmara dos Deputados e tivemos uma vitória espetacular na Comissão de Mérito, que aprovou por unanimidade. Quando o presidente Michel Temer colocar em votação no plenário na Câmara dos Deputados, ele vai anunciar que a Emenda Constitucional, que foi aprovada por unanimidade pela Comissão Especial, está em votação. Isso tem grande impacto!”, declarou o Senador.

Nota Técnica do DIEESE sobre a Redução da Jornada de Trabalho


O Dieese lançou uma Nota Técnica com argumentos, embasados em pesquisa científica, para a redução da jornada semanal de trabalho. Confira:


• O percentual de aumento no custo total de produção é de 1,99%. É irrisório se considerarmos que o aumento da produtividade da indústria, entre 1900 e 2000, foi de 113% e que, nos primeiros anos do século XXI, os ganhos de produtividade foram de 27%. Portanto, o grande aumento de produtividade alcançado desde 1988 (última redução da jornada de trabalho no Brasil) leva a um pequeno aumento de custo gerado pela redução da jornada de trabalho.


• A redução da jornada geraria a criação de um círculo virtuoso, pois os ganhos de produtividade e a sua melhor distribuição estimulam o crescimento econômico que, por sua vez, levam a mais aumento de produtividade.


• A redução da jornada seria um instrumento de distribuição de renda no País, pois geraria mais de 2,5 milhões de empregos.


• O Dieese calcula que o brasileiro dedica em torno de 11 horas ao trabalho (8 de jornada normal + 1 ou 2 de hora extra + 1 de almoço). Fora isso, ainda há o tempo de deslocamento, os cursos de qualificação, o trabalho em casa, a exigência de algumas empresas de que seus empregados estejam sempre “plugados”, pronto para serem solicitados a qualquer hora. Tudo isso gera sobrecarga, tensão e estresse, daí a necessidade de reduzir a jornada semanal de trabalho, “para que os trabalhadores possam viver e não apenas sobreviver”.

Perspectivas do relator da PEC

O deputado federal Chico Lopes (PCdoB) é o relator da PEC 291/95 na Câmara dos Deputados. Durante o ato, citou os países que apresentam outras jornadas de trabalho, de acordo com suas realidades e não deixou de explicitar aí a relação de contradição entre Trabalho e Capital. Chico ressaltou a velocidade com que as transformações tem se dado no mundo do trabalho, nos últimos 30 anos, e concluiu que, devido a isso, é mais urgente a necessidade de tempo livre para o trabalhador. “O tempo livre é para a própria qualificação do trabalhador, que necessita hoje de constante reciclagem e estudo. Além disso, é importante ter mais tempo para a família e para o lazer”, disse o deputado.


Chico Lopes criticou a elite, que, segundo ele, já está se mobilizando entre os deputados para não deixar passar a Emenda Constitucional que reduz a jornada de trabalho. “Eles não entendem que não é bom só para o trabalhador. É bom para a economia, para o desenvolvimento, é bom para o País”.


O militante do PCdoB foi eleito vereador de Fortaleza por três mandatos, a partir de 1982, e concluiu em 2006 seu segundo mandato como deputado estadual, quando foi eleito para deputado federal. A defesa dos comerciários, a implantação da meia passagem estudantil macrorregional, a queda da taxa do lixo, a proibição judicial dos aumentos da Coelce, a denúncia do fechamento de escolas e a luta por melhores salários e condições para os professores são apenas algumas das bandeiras erguidas pelo deputado.


Inácio Arruda, senador


“Essa é uma conquista extraordinária no mundo do trabalho, que tem tanto equipamento para trabalhar para a gente, para podermos estudar, ir ao teatro, ao cinema, namorar mais, participar das festas populares, das lutas coletivas e possibilita que trabalhadores possam trabalhar menos e viver melhor, até para que outras pessoas também possam ter acesso ao trabalho e à vida”.


Eudes Xavier, deputado federal


“Nós, socialistas, quanto mais alargarmos a democracia, mais estaremos preparados para o fim desse modo de produção capitalista e para o modo de produção socialista. Não podemos mais aceitar essa jornada semanal, que para a minha categoria, os comerciários, chega até a 54 horas semanais!”


Nelson Martins, deputado estadual
“Não foi a redução de 48 para 44 horas que impediu o desenvolvimento desse País e agora estamos com mais condições para continuar avançando e reduzir a jornada para 40 horas. Esta é uma mudança necessária e desejada!”


Lula Morais, deputado estadual


“O aumento no custo total de produção será de apenas 1,99%. Isso vai trazer mais qualidade de vida para o trabalhador e desenvolvimento para a economia do País”.


Jerônimo do Nascimento, presidente da CUT Ceará
“Agora é hora de fazer o debate em todos os Estados, pois é a representatividade dos trabalhadores que vai resolver isso. O Ceará, como sempre, está na vanguarda desse processo”.


Carlos Eduardo Bezerra, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará


“Essa não é só uma pauta do movimento sindical, mas do povo brasileiro. Isso significa alavancar a economia, o desenvolvimento e corrigir uma distorção da nossa sociedade. A nossa casa, o Sindicato dos Bancários do Ceará, está sempre aberta para fortalecer as trincheiras dessa luta”.