Com metas abusivas, BB atua e lucra como banco privado

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O Banco do Brasil anunciou no dia 14/8, que teve lucro líquido ajustado de R$ 5,69 bilhões no primeiro semestre de 2012, igual ao Bradesco (R$ 5,7 bilhões). Aliás, chama a atenção a semelhança dos balanços do BB e dos bancos privados em relação a objetivos, forma de atuação no mercado, metas e relação com a sociedade e com os funcionários. É idêntico até o truque de maquiar o lucro, como por exemplo, no dimensionando das provisões para devedores duvidosos mesmo com a inadimplência estável.


Diante do novo cenário de baixa de juros imposto pelo governo federal, a direção do BB revisou a meta do RSPL, estimando em 17% para 2012, uma lucratividade ainda muito alta para a realidade atual da economia brasileira.


No indicador de Rendas de Tarifas, foi previsto um crescimento de 13% a 18%. Contudo, o índice cresceu 21,3%, atingindo R$ 10,3 bilhões no semestre, descortinando uma política equivocada de ampliação da receita de prestação de serviços com o “Bompratodos”, sem, contudo, prestar atendimento de qualidade à população, com ampliação do efetivo de funcionários, optando claramente pela terceirização dos serviços para correspondentes bancários.


Já o crescimento das Despesas Administrativas foi afetado por decisões da alta administração do banco, crescendo 17,2% no semestre. Segundo a nota explicativa do BB, trata-se de despesas com “incorporação de operações, notadamente negócios com o grupo segurador Mapfre, Banco Postal e Banco Patagonia, que ainda não eram consolidados no resultado do 1S11”.


Os produtos de Seguridade, Previdência e Capitalização, com receitas de R$ 1,1 bi, sofreram um decréscimo de 4,7% sobre 1S2011, contudo não houve revisão das metas para estas operações que dão baixíssimo retorno e muito trabalho para os bancários que muitas vezes têm que “empurrar” para os clientes.


Despesas de Pessoal – As despesas de pessoal cresceram 4,8%, no comparativo 2T12- 1T12. No comparativo 1S12-1S11, o crescimento de 16,2% deveu-se, em parte, à consolidação das despesas com o Banco Patagonia e parceria com o Grupo Mapfre, que incrementaram as despesas de pessoal no período em cerca de R$ 195 milhões.


Desconsiderando esse efeito, o crescimento das despesas de pessoal na visão semestral seria de 13,5%, justificado pelo reajuste salarial concedido na data-base de setembro/2011 e aumento do número de funcionários. O BB não foi claro nas demonstrações contábeis, mas é provável que nesses 13,5% estejam incluídos os generosos bônus pagos aos administradores das agências e superintendências pelo Programa de Desempenho Gratificado.


A relação “contas/funcionários” ficou ainda pior no período. Em dezembro de 2011, o número de funcionários era de 113.810, em março 2012 foi reduzido para e 113.404, e, em junho 2012 saltou para 113.996, um acréscimo de 186 funcionários no período. Já a base de clientes passou de 56 milhões para 57,5 milhões, no mesmo período.


Com essa equação, a relação entre a Receita de Prestação de Serviços, somada à Renda de Tarifas Bancárias sobre as Despesas de Pessoal, demonstrou que somente essa receita secundária no banco cobre toda a despesa de pessoal, com sobra de 30,25% em junho de 2012 – aumento de 5,36% em comparação ao mesmo período de 2011 (foram vendidos pelo banco um total de 388.211 pacotes de serviço “Bompratodos”).


Lamentavelmente as despesas de treinamento sofreram redução de 12,4% em relação ao 1º semestre de 2011. Isso pode sinalizar uma mudança na política de investimento na capacitação de pessoal, transferindo para os funcionários a responsabilidade pelo custeio do seu desenvolvimento profissional.


O resultado também foi impactado negativamente, se comparado com 2011, com a redução do montante contabilizado pelo Plano de Benefícios da Previ, que contabilizou R$ 781 milhões no primeiro semestre de 2012, valor 59% inferior ao verificado no primeiro semestre de 2011 (R$ 1,92 bilhão). Essa contabilização, na visão do movimento sindical tem problemas sérios (como a diferença de percentual nas premissas do BB e da Previ para o cálculo atuarial), apesar de regulamentos de órgãos reguladores permitirem tal situação.