Correspondentes bancários: o olho gordo dos banqueiros

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Como se não bastasse a ganância dos bancos em explorar os clientes com altos juros e tarifas abusivas, ainda precarizam o trabalho

Pagamentos, recebimentos de contas diversas, recepção e encaminhamento de proposta de abertura de contas e depósitos, pedidos e análises de empréstimo e financiamento e cadastro, proposta de emissão de cartão de crédito, seguros, títulos de capitalização. Tudo isso pode ser feito nos correspondentes bancários, também conhecidos como “corbans”. Um negócio muito lucrativo para os bancos, que economizam nas despesas com a manutenção de agências e em salários menores para trabalhadores terceirizados. O resultado é discriminação de pessoas de baixa renda e insegurança para trabalhadores e clientes. Para o diretor do Sindicato dos Bancários do Ceará, Gabriel Motta, “os correspondentes bancários, embora aparentemente sejam vantajosos para a sociedade, são uma aberração jurídica e uma imoralidade política praticada pelos banqueiros com a conivência do Judiciário e a negligência do Legislativo e do Executivo”.


De acordo com o Banco Central do Brasil, os correspondentes foram criados com o objetivo de ocupar os espaços deixados pelos “ajustes de mercado”, ou seja, os locais onde não é financeiramente interessante para os bancos manter uma agência em funcionamento. Ao final do ano passado, o sistema financeiro contabilizava 108.074 desses pontos de atendimento, segundo dados da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). Isso representa uma expansão de 12,8% na comparação com 2007 e de 196,3% desde 2003, ano em que foi criada uma legislação específica para prestação de serviços bancários fora das agências tradicionais.


Para os bancos essa prática compensa bastante. Segundo Maria Diamices Chevalier, do Banco Regional de Brasília, a instalação de uma agência bancária pode custar entre R$ 300 mil e R$ 400 mil. Um posto de atendimento bancário, em torno de R$ 70 mil. Os gastos com um correspondente – mesmo com treinamento e segurança – ficam na casa dos R$ 18 mil.


O advento dos correspondentes bancários tem gerado precarização do trabalho e diminuição das vagas. Em 1990, o Brasil tinha mais de 750 mil trabalhadores bancários. Hoje, são cerca de 465 mil. Correspondente bancário é uma atividade dos bancos, onde deveria ter bancários, que são treinados para oferecer esse atendimento. “Os bancos terceirizam comerciários – que não são contratados para tal função –, lucram mais ainda e exploram ‘x’ vezes mais o trabalhador. Isso demonstra que os bancos não têm responsabilidade social e não geram emprego, tanto os privados quanto os públicos”, declarou Gabriel Motta.

PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO – Criado com a desculpa de democratizar o acesso ao sistema financeiro, o correspondente bancário virou símbolo do preconceito e discriminação dos bancos, que empurram os mais pobres para este tipo de atendimento. Segundo pesquisa feita pelo Instituto Fractal, 41% das pessoas que utilizam o correspondente bancário têm renda mensal entre R$ 251,00 e R$ 500,00. Outros 53% ganham salários de R$ 500,00 a R$ 800,00, enquanto os 6% restantes sobrevivem com R$ 250,00 a cada trinta dias.


Ao mesmo tempo em que empurram os mais pobres para fora das agências, os bancos têm investido pesado para melhorar o atendimento aos clientes mais ricos. Este mês, o HSBC anunciou que pretende concentrar sua expansão no Brasil no segmento de varejo de alta renda. O banco inglês vai investir R$ 70 milhões na abertura de 30 das chamadas agências Premier, elevando o total desses pontos para cem até o fim do ano. As agências Premier são projetadas para atender clientes que ganham pelo menos R$ 5 mil por mês e que tenham R$ 50 mil disponíveis para investimentos.


A situação nos bancos públicos não é diferente. O Banco do Brasil anunciou uma parceria com o Banco Lemon que amplia a terceirização de serviços bancários. A intenção do BB é ampliar sua rede de correspondentes bancários em 70%, o que corresponde a 6.500 pontos instalados em 1.500 municípios.

ORIGEM DOS CORBANS: Esse tipo de serviço foi identificado pela primeira vez em 1973. De lá para cá, seis resoluções liberaram e ampliaram o leque de atuação dos correspondentes bancários. O termo foi cunhado em resolução do BC de 1999. Em tese, surgiram para atuar em localidades onde os bancos, por conveniência, não queriam estar. Mas a partir de 2000, quando coincidentemente começa a disparada no número de pontos de correspondentes, o BC acabou com a limitação que previa a instalação dos corbans somente em praças desassistidas por agências bancárias.