Economia Solidária – uma economia construída por mulheres

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A Economia Solidária traz como um de seus princípios fundantes a organização coletiva do trabalho. Esse princípio pressupõe a participação como essencial para o conhecimento dos processos cotidianos da prática laboral e corresponsabilidade de todas e todos com a gestão. Outra dimensão humanizadora é a relação solidária nas ações internas e externas, como base para a produção de um saber coletivizado e legitimado como de todas as pessoas.


As mulheres são a maioria na construção da Economia Solidária. Porém, a igualdade de participação entre homens e mulheres, em todos os seus espaços, ainda é um desafio a ser superado. Não podemos continuar reproduzindo a contradição, afirmando que as mulheres estão de fato em condição de igualdade, sendo que, no cotidiano da ação, isto não se reproduz. Ainda é consistente uma condição de desigualdade entre homens e mulheres.


O movimento da Economia Solidária pode representar uma alternativa para mudarmos este quadro de desigualdade entre homens e mulheres. Essa é uma tarefa cotidiana de quem acredita nesse novo jeito de organizar, produzir, comercializar e consumir, pois, a Economia Solidária é um caminho possível para pensar a divisão sexual do trabalho, se garantir uma abordagem feminista em todos os seus processos.


Um debate central para a construção do feminismo dentro da Economia Solidária é o questionamento e o rompimento com a divisão sexual do trabalho. Para isto é preciso ampliar o conceito de trabalho e compreender que as chamadas esferas da produção e da reprodução, não são separadas e independentes. Pelo contrário, são esferas articuladas.


Esta mudança na concepção perpassa por reconhecer o trabalho não remunerado e invisível, realizado pelas mulheres, que é fundamental para a sustentabilidade da vida humana. Contribui também para buscarmos políticas públicas de cuidados, como creches, restaurantes comunitários e lavanderias comunitárias que reduzam o trabalho doméstico, bem como a divisão deste com os homens, e, assim, garantir às mulheres, a construção da sua autonomia econômica e social.


Como a Economia Solidária se baseia em princípios contra hegemônicos, pode parecer mais fácil avançar no rompimento com a divisão sexual do trabalho, mas a realidade dos empreendimentos reproduz, na prática cotidiana, estas amarras. As mulheres são ainda minoria nas direções e em outros espaços de decisão e, frequentemente, desempenham funções associadas às tarefas da esfera da reprodução.


A Economia Solidária pode contribuir com a luta feminista, na medida em que cria condições de desnaturalizar à separação de público e privado, produtivo e reprodutivo – desconstruindo a divisão sexual do trabalho; recolocando o olhar para o trabalho do cuidado das pessoas como uma esfera mantenedora e relacionada ao mundo produtivo.


Maria de Fátima Costamilan – coordenadora da Agência de Desenvolvimento Sustentável