Em busca de fundamentos

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O trabalhador bancário cuida, protege e gerencia o núcleo central do sistema econômico vigente: o capital. Não que o dinheiro que circula em cifras astronômicas pelas mãos do bancário, mas não lhe pertence, seja, em si, capital. O capital é a relação social básica que convenciona tratar como mercadoria todos os bens tangíveis e intangíveis da sociedade. O dinheiro representa essa relação, fisicamente e, cada vez mais, apenas como escrituração, representação contábil, virtual. Ao lidar com todo o dinheiro que circula na sociedade, o bancário, quer o perceba quer não, lida com o capital dessa sociedade.


Se tudo tem o potencial de transformar-se em mercadoria, este princípio se constitui em indutor de mercados onde estas mercadorias possam trocar-se passivamente pela equivalência de seus valores.


Situações de escassez e de abundância podem desequilibrar o balanço das trocas, mas a tendência é o re-equilíbrio a médio prazo. Esta situação produziria logicamente um jogo de soma zero, um mercado de valor constante, mas outra constatação contraria tal dedução lógica: ao longo das décadas e séculos, a massa de valores no mercado se amplia. De onde nasce esta ampliação dos mercados?


Ocorre que há no mercado uma mercadoria ativa, algo que escapa da troca passiva de equivalentes: a força de trabalho humana desequilibra positivamente a troca de equivalentes e propicia a acumulação. A soma de valores necessários para a reprodução do corpo humano é menor do que aquele valor que as capacidades física e mental do trabalhador têm capacidade de produzir. Essa diferença entre o valor consumido pelo trabalhador na reprodução da força de trabalho e o valor produzido ao aplicar esta mesma força é o que a economia clássica chama de sobre-valor, mais-valor ou mais-valia. Karl Marx, no século XIX, estudou-a e registrou-a na sua obra mais conhecida, O Capital.


Conquistas da ciência e da tecnologia fazem crescer a composição orgânica do capital e pressionam para baixo a taxa média de lucro do sistema. Ao mesmo tempo, exigem dos trabalhadores maior escolaridade e outros estudos. O mesmo avanço científico-tecnológico forma dois pólos da contradição. De um lado, os empresários querem manter lucros elevados e combinam tecnologia de ponta com tecnologia obsoleta e formas de gestão participativa com formas herdadas do fordismo, de caráter autoritário, e até mesmo com relações pré-capitalistas, como é o caso do trabalho escravo ou a ele assemelhado. De outro lado, os trabalhadores, ao assumirem novo paradigma cultural e dominarem novas tecnologias, querem melhor remuneração, mais tempo livre, mais lazer, novas oportunidades culturais e educacionais.

Humberto Cunha – Doutor em Educação Popular pela

Universidade Federal do Rio Grande do Sul