Emprego bancário cresce, mas diminuemos salários

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Os bancos que operam no Brasil criaram 24.032 novos empregos em 2010, o que representa 1,12% dos 2.136.947 postos de trabalho gerados por toda a economia no ano em que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 7,5%, o maior salto dos últimos 25 anos. Esse é o resultado da Pesquisa de Emprego Bancário (PEB) realizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) em parceria com o Dieese, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.


O resultado contrasta com 2009, ano em que o PIB brasileiro não cresceu em razão da crise internacional, quando o sistema financeiro fechou 621 postos de trabalho. Mas a pesquisa de 2010 (a oitava já realizada pela Contraf-CUT/Dieese) mostra que a rotatividade da mão-de-obra permanece alta nos bancos e se mantém a discriminação contra as mulheres, que recebem menos que os homens tanto na admissão quanto no desligamento.


“Apesar do aumento no número de vagas, a rotatividade continua alta no sistema financeiro, mecanismo que os bancos usam para reduzir a média salarial dos bancários. Essa é uma prática perversa do setor onde somente as seis maiores empresas tiveram lucro líquido de mais de R$ 43 bilhões no ano passado”, compara Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.

Em 2010, o sistema financeiro contratou 57.450 trabalhadores e desligou 33.418. A remuneração média dos desligados foi de R$ 3.506,88, valor 37,57% superior ao salário médio de R$ 2.188,43 dos admitidos. A região Sudeste foi onde os bancos mais abriram postos de trabalho (16.065). O Norte registrou o menor saldo de emprego (981).


No País, em 2010, foram gerados 24.032 novos postos de trabalho nos bancos, uma expansão de 5,19%. A remuneração média dos admitidos foi de R$ 2.188,43 contra R$ 3.506,88 dos desligados, diferença de 37,60%.

CEARÁ – O Estado teve um saldo de 193 contratações em 2010. No entanto, paralelo a esse número, os salários médios caíram 37,33%. “Os bancos estão utilizando o processo de rotatividade do emprego para reduzir o gasto com a folha de trabalho”, criticou o presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará, Carlos Eduardo Bezerra.


Segundo o presidente, os 642 funcionários admitidos em 2010 no Ceará recebiam salários médios de R$ 1.870,14. Já os 449 que foram demitidos no ano, tinham rendimentos médios de R$ 2.984,29. Ao todo, são oito mil bancários na ativa no Ceará e quase 480 mil no País.


Carlos Eduardo alega também que as menores remunerações e as contratações de pessoas para o primeiro emprego podem afetar o nível do atendimento bancário. Representam 56,85% os contratados para a experiência inicial. Outro dado que chama a atenção é a quantidade de bancários que pediram demissão no ano passado. Entre os 449 bancários desligados em 2010, 61,69% pediram demissão. Nacionalmente, os bancários que pediram demissão em 2010 representam 49%. “A política de estruturação do serviço bancário se tornou exaustiva. Eles são cobrados pela venda de produtos e serviços bancários diariamente”, destacou.

EMPREGO DIMINUI NAS FAIXAS MAIS ALTAS – O saldo positivo de emprego nos bancos em 2010 está concentrado nas faixas salariais até três salários mínimos. Acima do valor equivalente a quatro salários mínimos, o saldo de emprego é negativo em todas as faixas de remuneração.


A pesquisa demonstra também que os bancos continuam dando preferência aos jovens nas contratações. Na faixa etária até os 30 anos, o saldo positivo de postos de trabalho foi de 28.090 no ano passado. A partir dos 40 anos de idade, o saldo de emprego é negativo.


Além de jovem, os novos contratados têm alta escolaridade: 42,21% possuíam o superior completo e outros 35,66% estavam cursando o terceiro grau. Mas a escolaridade dos que se desligaram era maior ainda: 60,7% com curso superior completo e 23,59% cursando a faculdade.

MULHERES JÁ ENTRAM NOS BANCOS GANHANDO MENOS – Na comparação de gênero, a pesquisa mostra que os salários das mulheres bancárias são inferiores tanto na contratação quanto no desligamento. As bancárias desligadas em 2010 recebiam salário médio de R$ 2.887,21, valor 28,71% inferior à remuneração média de R$ 4.049,92 dos homens. Na admissão, as mulheres foram contratadas com salário médio de R$ 1.833,35, contra R$ 2.534,52 dos trabalhadores masculinos – uma diferença de 27,66%.


“Esses dados confirmam mais uma vez a existência de discriminação contra as mulheres dentro dos bancos, deixando claro que precisamos avançar muito nas discussões sobre igualdade de oportunidades, que certamente será um dos eixos da campanha nacional de 2011”, afirma o presidente da Contraf-CUT.

CRESCE NÚMERO DE PEDIDOS DE DEMISSÃO – O estudo Contraf-CUT/Dieese revela também uma alteração significativa em relação à pesquisa de 2009 no que se refere aos tipos de desligamentos dos bancos. Naquele ano, do total de afastamentos do sistema financeiro, 35,65% foram pedidos de demissão dos bancários. Em 2010, a demissão voluntária subiu para 49,08%.


Os pedidos de demissão estavam concentrados nas funções de escriturário, que é início da carreira. Nesse segmento, 64,56% dos afastamentos foram a pedido.


“Algumas das razões que explicam o fato de a metade dos desligamentos serem por iniciativa dos próprios trabalhadores são que eles não suportam mais as pressões por obtenção de metas cada vez mais abusivas e o assédio moral que vem como consequência”, avalia Carlos Cordeiro. “Essa também será com certeza uma das principais reivindicações da campanha deste ano”.