Êxodo dos bancários

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A categoria profissional dos bancários brasileiros reduziu-se em quase sua metade, nos últimos 10 anos. Imaginemos a angústia pela qual essa comunidade passou (e passa). Em cada dois, um não mais faz parte dela. Primeiro, era um colega distante que era dispensado. Tudo bem, colega a gente não escolhe mesmo… Mas, quando já é o vizinho ao lado de sua mesa? E o seu amigo?! Você passa a aguardar sua vez.

O pesadelo começou com a liberalização e a abertura financeira. Daí em diante, em toda a década passada, foi só uma tal de reengenharia, downsizing, redução de “gordura”, corte de pessoal. Pior, a receita de consultorias estrangeiras com o “jeitinho nacional” enfeita tudo com confeitos do tipo ganhar eficiência, sinergia, flexibilização, terceirização, e coisas e tais.

Em busca de escala, os bancos fazem fusões, associações, incorporações, e privatizam. A cada caso desse, em vez de comemorar o crescimento da empresa empregadora, os funcionários se apavoram. Ocorre a superposição de estruturas. Coloca, além de redes de agências concorrentes, setores inteiros na mira dos cortes de custos dos bancos.
Na busca desenfreada de competitividade, inclui-se também a crescente utilização de inovações tecnológicas e financeiras como diferenciais na disputa por clientes. A generalização dos gastos com informática e telecomunicações acentua o encolhimento no número de postos de trabalho nos bancos.

As instituições financeiras exigem que seus empregados sejam cada vez mais polivalentes e flexíveis. São imediatamente despedidos os de baixa escolaridade. Permanecem os supostamente com a condição necessária para a absorção das inovações no processo de trabalho bancário.

Mas os efeitos da prática sistemática de horas extras deterioram a qualidade de vida e, particularmente, a saúde do trabalhador no setor bancário. Há elevação da quantidade de funcionários que ocupam cargos de gerência, com jornada acima das 30 horas semanais, conquista histórica da categoria.

A terceirização crescente das atividades nos bancos mostra que a conquista de direitos pelos bancários, muitas vezes, não é respeitada. Ainda por cima são classificados de “corporativistas”, quando os defendem. Não se trata de corporativismo, quando se cuida da própria sobrevivência.

Por exemplo, as loterias, padarias, farmácias, lojas de conveniência, entre outras, estão sendo autorizadas a receber e a encaminhar propostas para a abertura de contas de depósitos à vista, a prazo e de poupança, fazer aplicações e resgates em fundos de investimento, receber e encaminhar pedidos de empréstimos e de financiamentos, analisar crédito e cadastro, executar cobrança de títulos, entre outros serviços. Os sindicatos dos bancários defendem que, se elas executarem esses serviços, os seus funcionários devem entrar para a categoria dos bancários, acertadamente.

Por Fernando Nogueira da Costa, artigo publicado na Folha de SP.