IMPRENSA LIVRE É UM DOS REQUISITOS PARA UMA DEMOCRACIA FORTE

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Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará


Foi com grande pesar que recebemos na quarta-feira, 10 de julho, a notícia do falecimento do jornalista Paulo Henrique Amorim, que sofreu um infarto fulminante aos 77 anos, em sua casa, no Rio de Janeiro.


O jornalista passou pelas principais emissoras do país, assim como foi correspondente no exterior. Dono de uma atuação combativa, Paulo Henrique Amorim mantinha o blog Conversa Afiada, com milhões de seguidores, que se notabilizou pelas duras críticas aos retrocessos do país e popularizou o termo “PIG” (Partido da Imprensa Golpista), denunciando a falta de isenção da imprensa no atual cenário político brasileiro. O blog apoiou a ideia de que houve um golpe institucional em 2016 e fez críticas frequentes à Lava Jato e ao presidente Jair Bolsonaro, tornando-se referência entre os veículos da mídia progressista.


Desde 2003, o jornalista apresentava o Jornal da Record e, a partir de 2006, o Domingo Espetacular, pela TV Record. Mesmo mantendo uma postura profissional e neutra enquanto comandava os noticiários, Amorim foi diversas vezes criticado e perseguido por conta de suas convicções políticas. A situação culminou com o afastamento do profissional, no final de junho. Em nota, a Record informou que ele ficaria “à disposição de novos projetos”. Nos bastidores, entretanto, o afastamento é atribuído a pressão política de aliados do governo Bolsonaro que “pediram a sua cabeça”. Amorim não aderiu à posição do dono da Record, Edir Macedo, simpatizante declarado de Jair Bolsonaro.


Não queremos aqui afirmar que o motivo da morte do jornalista foi devido ao seu afastamento da emissora, pois não conhecemos o histórico médico, pessoal e emocional de Amorim. O que queremos apontar é uma questão muito mais grave: quando jornalistas não podem manifestar publicamente suas opiniões para não ferir o ego deste ou daquele governante. O nome disso, todos sabemos qual é: censura. E nós lembramos muito bem em que época isso ocorria. Quando jornalistas eram perseguidos e até mortos por conta de suas convicções políticas.


Assim como Paulo Henrique Amorim, outros profissionais também têm sido perseguidos. É o caso da apresentadora do SBT Brasil, Rachel Sheherazade. Em uma postagem no Twitter, o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, pediu a cabeça da jornalista a Sílvio Santos por considerá-la “comunista”. Sheherazade respondeu na mesma rede social e prometeu processar o empresário. Até o momento, Sílvio Santos não deu sinais de que atenderá ao pedido de um dos anunciantes da emissora. Na Jovem Pan, o historiador Marco Antonio Villa anunciou sua demissão após ter sido afastado por 30 dias, por acreditar que não existe mais clima para trabalhar na emissora. Por coincidência ou não, eles também criticaram em seus programas o governo Bolsonaro. Antes ídolos da direita no Twitter por se posicionarem diversas vezes contra o PT no passado, hoje são chamados de “comunistas” porque criticam os desmandos do atual governo.


A política sempre gera paixões e arroubos, mas não se pode, a partir disso, tolher ou perseguir um profissional da imprensa em decorrências de suas análises ou opiniões. Um país onde a imprensa não é livre para se expressar configura uma grave ameaça à democracia. Precisamos resistir!