Livro aborda o cotidiano e as angústias do “ser bancário”

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O bancário não se dá conta de que está sendo seduzido pelos bancos a trabalhar mais e assim enfraquecer o movimento sindical. É o que concluiu o debate sobre o lançamento do livro “Ser bancário: viver o esplendor social ou o trabalho precário?”, realizado dia 18/4, na sede do Sindicato dos Bancários de Brasília. A atividade contou com a participação das coautoras Livia de Oliveira Borges e Ana Magnólia Bezerra Mendes.


Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Livia de Oliveira destacou que atualmente o envolvimento dos bancários no movimento sindical é muito baixo. Ex-bancária e participante do Laboratório de Estudos sobre o Trabalho, Saúde e Sociabilidade da UFMG, Livia atribuiu parte desse enfraquecimento do movimento sindical às metas inatingíveis impostas pelas instituições financeiras.


Jogo de sedução – Professora do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho e do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social e do Trabalho e das Organizações do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Ana Magnólia compartilha da mesma opinião de Livia. “Sem perceber, os bancários vão entrando num jogo de sedução, onde as metas são humanamente impossíveis de serem batidas. Por isso, há um clima de deterioração das relações de trabalho nos bancos”, explicou.


Canibalismo – A concorrência no sistema financeiro é tão perversa que as agências de um mesmo banco estão disputando os mesmos clientes, revelou Livia. “É o canibalismo do capital. A prática não tem uma lógica em si mesmo. É uma lógica distorcida”, disse. “Se exige muito do bancário e se oferece poucas condições”, completou.


Reabilitação – Além das dificuldades de mobilização, das metas inatingíveis e da renda variável da categoria, o debate também tratou da reabilitação dos trabalhadores afastados em virtude das doenças relacionadas ao trabalho, resultado da precarização do trabalho.


Por que você deve ler o livro? – Publicado pela editora CRV, a publicação faz uma análise detalhada das transformações do setor bancário desde a última década do século passado, quando foram mais frequentes as fusões de bancos, o encerramento das atividades e as privatizações de outros, bem como a introdução de novos modos de organização do atendimento bancário, dos tipos dos serviços prestados, dos estilos de gestão e dos processos e tecnologias de trabalho. O livro também revela que os bancos passaram a exigir mais do desempenho e do envolvimento no trabalho.


Com 314 páginas, a obra foi organizada por Livia de Oliveira Borges, Gabriel Eduardo Vitullo e Júlio Ramon Teles da Ponte.