Lucros recordes, muitas demissões e caos nas agências

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Ir a uma agência bancária hoje em dia é sinônimo de transtorno e muita, muita demora. A cena mais comum é chegar numa agência, principalmente se for de banco privado, e encontrá-la completamente lotada. A origem do problema pode ser representada por um fato também simples de observar dentro dos bancos: o quadro cada vez mais reduzido de funcionários para atender a clientela.


Os bancos, por sua vez, continuam batendo recordes de lucratividade. Somente o Itaú, maior banco privado brasileiro, apresentou lucro recorde de R$ 5,8 bi no primeiro trimestre de 2015, mas fechou 2.248 empregos. Segundo maior banco privado do País, o Bradesco teve no primeiro trimestre de 2015 lucro líquido ajustado de R$ 2,274 bilhões. Apesar disso, elevou suas despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD) em 18,5% e cortou 4.569 postos de trabalho nos últimos 12 meses.


Já o Santander lucrou R$ 1,6 bilhão e registrou um aumento de 1.259 postos de trabalho, em relação ao mesmo período de 2014. Entretanto, o aumento ainda é insuficiente para suprir a demanda pois, em contrapartida, foram fechadas duas agências e 82 PAB’s em todo o País, superlotando algumas unidades. Além disso, apesar da redução física, a carteira de clientes cresceu significativamente, com 1,3 milhão a mais em um ano.


A tendência de lucro vem de 2014. Mesmo sendo um ano eleitoral e, segundo os banqueiros, de baixo crescimento econômico, os cinco maiores bancos brasileiros – Caixa, Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander – reportaram juntos um lucro líquido 20,6% maior, de R$ 55,830 bilhões. A promessa de entregar melhores resultados aos acionistas em 2015 é amplamente repetida.


Depois de encerrarem 2014 com crescimento de um dígito na carteira de crédito, é com este ritmo em mente que eles planejam 2015. O Bradesco prevê crescimento entre 5% a 9% de sua carteira e o Itaú de 6% a 9%. O Santander não divulga sua previsão, mas sua administração deixou claro que também vê um movimento de conservadorismo nos empréstimos.


Lucro a que custo?

O lucro líquido dos três maiores bancos privados brasileiros – Itaú, Bradesco e Santander – somou R$ 11,6 bilhões. O montante é 24,9% maior do que o obtido no mesmo trimestre de 2014. Enquanto contam as moedas em seus cofres, oneram os funcionários com sobrecarga de trabalho, pois a prática usual é cortar gastos com pessoal para inflar mais ainda seus lucros.


No caso do Itaú, as metas abusivas estão deixando os funcionários indignados. Tais metas são um verdadeiro tormento na rotina de bancários que sofrem para conseguir “sobreviver” no emprego. Além de exigir números inatingíveis, o Itaú demonstra incoerência e extremo desrespeito aos seus funcionários com constantes mudanças nas metas que impedem que estas sejam atingidas, gerando assim, mais penalização do que reconhecimento aos empregados.


No Bradesco, o quadro não é diferente. Em visitas às unidades do Estado, o Sindicato constatou que o Bradesco não só está reduzindo o número de funcionários nas agências, como está diminuindo, gradativamente, o número de guichês de atendimento (caixas). A consequência dessa medida é que os poucos bancários que ficam nas agências têm sofrido com a sobrecarga de trabalho e com o estresse do público, indignado com a demora no atendimento.


No Santander, desde que assumiu a presidência da filial brasileira, em abril de 2013, o banqueiro Jesús Zabalza, vem promovendo um maciço programa de corte de custos, a exemplo do que fez nos outros países latino-americanos onde presidiu a Instituição. Os efeitos colaterais dessa atual gestão têm sido o fechamento de postos de trabalho e a insatisfação de clientes frente às péssimas condições de atendimento.


Sindicato “in loco”

Em visita às agências pelo Interior e Capital, o Sindicato tem presenciado unidades lotadas com número reduzido de funcionários, gerente administrativo atendendo no caixa, gerentes de negócios responsáveis por mais de uma carteira, entre outros problemas. Além de conviver com a falta de funcionários, os bancários são obrigados a cumprir metas altíssimas e, para ficar pior, as cobranças são diárias, causando adoecimento nos funcionários que por muitas vezes trabalham doente.



Demissões no Estado

Somente no Ceará foram homologados no Sindicato 139 desligamentos de janeiro até o último dia 7/5. Desses, 46 sem justa causa. Itaú, Bradesco e Santander desligaram juntos 42 bancários (22 no Bradesco, dez no Itaú e dez no Santander). Dos demitidos pelo Itaú, oito foram sem justa causa e duas a pedido. Já no Bradesco, dos 22 desligados, 13 foram sem justa causa e sete a pedido. No Santander, dos dez desligados neste início de ano, foram cinco sem justa causa e quatro a pedido.


“Está um verdadeiro caos nas agências. Além da pressão por metas, faltam funcionários, sobram filas e demandas e ainda os trabalhadores são obrigados a vender produtos e recuperar crédito. Dessa forma, o atendimento é precário e as condições de trabalho cada vez mais difíceis. É desumana essa postura do Itaú”
Ribamar Pacheco, diretor do Sindicato e representante do Nordeste na COE Itaú


“O Bradesco demite, reduz a sua estrutura de atendimento nas agências e expulsa os clientes de dentro do banco. Cobra tarifas e juros altos, mas não dá condições adequadas de trabalho aos seus funcionários, nem presta um bom atendimento à população. Além disso, o adoecimento do funcionalismo tem aumentado, tudo por força da precarização das condições de trabalho”
Rita Ferreira, diretora do Sindicato e funcionária do Bradesco


“A redução do quadro de funcionários em detrimento do lucro tem sido uma política que degrada o ambiente de trabalho e adoece os funcionários e mais ainda, faz com que os bancários desistam da atividade bancária e migrem para outros mercados de trabalho. Esse foi o relato, constatado pelo Sindicato, quando da homologação de bancários que pediram desligamento de seus respectivos bancos”
Eugênio Silva, diretor do Sindicato e funcionário do Santander