Luta pela isonomia no setor bancário

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Este Editorial abre uma série de abordagens em torno de uma grande prioridade definida pela CONTRAF para o ano de 2007 – a ISONOMIA.

O processo eleitoral último reavivou na memória dos bancários dados importantes da política nacional recente. Recuperou-se a informação de que, por exemplo, durante a “década neoliberal”, o Brasil apresentou taxas medíocres de crescimento do PIB. Se nos anos 80, “década perdida”, tivemos uma taxa média anual de 3%, nos anos 90 o crescimento anual médio atingiu apenas 1,7%. A “década neoliberal” se configura, portanto, como uma “década mais que perdida”. É neste momento histórico que se dá a inserção subalterna do Brasil no capitalismo mundial caracterizado pela financeirização da economia e pela globalização apropriada por poucos.

Na economia cite-se o Plano Real (1994) que trouxe o controle inflacionário. O Brasil, contudo, continuou detendo a taça de pior distribuição de renda do mundo industrializado.

Assim, o neoliberalismo selvagem se inicia com Collor e seus planos que levaram o País a uma profunda recessão. E mais: deu-se início a um programa de reforma do Estado sob a gestão do BNDES – o Programa Nacional de Desestatização. Itamar sucedeu Collor e facilitou a aparição sob a capa do Plano Real de FHC. De 1994 a 1997 fala-se em um neoliberalismo claudicante.

É neste período que vai se acentuar juntamente às políticas neoliberais propiciadoras de desestruturação das cadeias produtivas nacionais o que foi denominado por alguns como “choque de capitalismo”. Ressalte-se que estes instrumentos empresariais modernos foram adotados extensivamente no setor bancário e profundas foram as conseqüências.

Os bancos brasileiros em nada devem em equipamentos, tecnologia e serviços aos bancos das praças dos países de 1º mundo. E esta realidade atingiu os bancários com redução gigantesca de postos de trabalho (de 800.000 a cerca 400.000) e ainda dividiu os que permaneceram nos bancos dos que nele ingressaram.

Este “choque” atingiu empresas e trabalhadores. Para as empresas, elevação de produtividade. Para os trabalhadores, diminuição dos postos de trabalho. No duro cotidiano das empresas, cobrança, tensão, crueldade e forma sofisticada ou na base dos instrumentos da idade da pedra lascada.

Os bancos, no Brasil e fora dele, são a expressão maior do modelo capitalista predominante no mundo. Exorbitantes lucros acumulados por décadas. Reciprocidade pequena com a sociedade em geral e com os trabalhadores, em especial.

O sistema financeiro brasileiro poderia atender melhor à população e não apenas clientes especiais e igualmente poderia dotar seus trabalhadores de melhores salários e condições de trabalho. Isto vale para os bancos privados, mas vale igualmente para os bancos públicos, cujos trabalhadores viveram um inferno astral nos 8 anos de gestão tucana. Salários reprimidos, PDVs, demissões e convivência com corrupção. A privatização e a terceirização foram levadas ao seu extremo com conseqüências profundas até os dias de hoje. Aqui se plantou a discriminação, a precarização, a fragmentação e a dispersão para a categoria bancária como nunca. E aqui reside um dos pontos centrais a serem atacados pela CONTRAF – devolver, na luta, a dignidade e a igualdade para todos os trabalhadores do sistema financeiro.

O primeiro governo Lula estabeleceu um novo ambiente no setor bancário. A democracia respirou viva, os sindicatos reivindicaram sem que fossem demonizados e, assim, preparou-se o terreno para o necessário prosseguimento de novas lutas.

Trabalhadores de bancos públicos amparados de forma diferente em suas futuras aposentadorias, sistema de participação nos lucros não equânime, trabalho igual e remuneração diferente, trabalhadores do sistema financeiro sem serem reconhecidos como tais… enfim, um mundo diverso, desigual e, muitas vezes, regrado injustamente. Este mundo do trabalho (fragmentado, precarizado) será objeto de uma grande luta: a luta pela isonomia. E a ISONOMIA NO SETOR BANCÁRIO será o tema dos nossos próximos editoriais.