Luta tripla: maternidade, trabalho e sindicalismo

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Carmam Santiago   Léa Albuquerque  


O dia das mães é uma das datas mais esperadas do ano – tanto pelo apelo comercial, como pelo sentimentalismo que carrega. Abraços, beijos, presentes, homenagens, declarações e reencontros. A Tribuna Bancária não poderia deixar de dedicar um espaço para a data e traz a experiência de mulheres que se desdobram nos papeis de mãe, trabalhadora e sindicalista.


Muito se fala na dupla jornada das mulheres, que dividem sua atenção entre o trabalho e a família. Mas quando a dedicação feminina se estende à luta sindical, a jornada fica mais densa. As dificuldades são, essencialmente, as mesmas: saber conciliar o tempo entre todas as atribuições e ainda conseguir estar presente na educação do filho – desafio enfrentado por outras profissionais também.


Carmen Amélia, Léa Albuquerque e Carmem Silvia. Três mães e sindicalistas. As duas primeiras, bancárias; a outra, professora. Elas apontaram os bons frutos que colheram no movimento sindical e levam para a educação dos filhos. “Os valores que levamos do movimento sindical são importantíssimos. A questão da cidadania, da decência, por exemplo. Fazer com que seus filhos possam acreditar que o mundo pode ser melhor, que não podemos dar as costas para uma luta por igualdade, por justiça”, afirma Carmem Amélia, diretora do Sindicato dos Bancários do Ceará e integrante do movimento sindical há 12 anos.


Carmem Amélia destaca que toda mãe deve apresentar essa luta ao filho, sem entregá-lo ao “capitalismo tão selvagem”. “É importante orientá-lo a ter uma profissão, a conquistar coisas, mas é preciso estar comprometido com o universo, pensar na possibilidade de transformar, de melhorar. Isso ajuda os nossos filhos a pensaram no outro e coletivamente”, diz a diretora, que tem dois filhos e um, Gabriel, seguiu os passos maternos: também é funcionário do Bradesco e diretor do Sindicato. “Gabriel é hoje meu colega bancário, colega sindicalista, colega de luta. Quando ele tinha apenas cinco anos de idade, já me acompanhava na praça para lutar pelas Diretas Já”, lembra.


Carmem Silvia, professora e secretária de Mulheres da CUT/CE, é sindicalista desde 2000. O filho de oito anos a acompanha desde os quatro meses às reuniões do movimento sindical. “Ele foi criado nesse ambiente e desenvolveu uma criticidade, uma sensibilidade aos problemas do mundo. Ele enxerga situações da vida que outras crianças não conseguem enxergar. É um valor importante que podemos colher do movimento sindical”, afirma.


Sem uma jornada fixa, já que a luta trabalhista é a qualquer hora e qualquer dia, Silvia diz que fica difícil, numa idade que exige muito a presença da mãe, controlar e criar regras. “Essa ausência custa caro, mas ajuda o filho a compreender o mundo a partir dela e também a valorizar os momentos em família”. Silvia acrescenta ainda que seu envolvimento sindical transmite outros valores ao filho, como a responsabilidade e o valor do trabalho. “Ele reconhece que a mãe precisa trabalhar para sobreviver. Esse reconhecimento do esforço é muito importante”.


Já a funcionária do Banco do Brasil e diretora do Sindicato dos Bancários, Léa Albuquerque, procura dividir suas tarefas de sindicalista e bancária com a missão de ser mãe de Catarina, de sete anos. “Eu tenho minha jornada no banco, tenho meu horário no Sindicato, mas mãe eu tenho que ser em horário integral. Eu enfrento esse desafio de ser mãe, trabalhadora e sindicalista com muita fé em Deus e pedindo um milagre todos os dias porque é muita responsabilidade: trabalhar fora e em casa, cuidar de criança, dar conta do Sindicato, aí vem a cobrança do gerente, dos colegas, como sindicalista. Quando chega em casa tem tarefa para ensinar, tem que lavar, passar, dar conta da casa e ainda tem que achar tempo de vez em quando para ser mulher e isso é complicado”, fala.


Apesar do tempo corrido e das dificuldades, Léa afirma que procura passar para a filha o senso de responsabilidade. “Enfatizo muito isso para ela. Recentemente, ela queria um cachorro e eu expliquei que a responsabilidade seria toda dela, de cuidar, de limpar. E ela está dando conta do recado. Acho que de tanto me ver cumprir as minhas obrigações, ela assimilou o meu estilo de vida, o meu jeito de administrar tudo ao meu redor, porque eu não tenho ajuda: não tenho marido, não tenho mãe perto de mim, não tenho empregada doméstica, tudo sou eu. Mas aí, o cachorrinho está lá, muito bem cuidado”, diz Léa, com orgulho.