MAIOR DESASTRE AMBIENTAL DO LITORAL BRASILEIRO É AGRAVADO POR OMISSÃO DO GOVERNO

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Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará


Em apenas dois meses, as manchas de óleo nos mares do Nordeste se transformaram na maior tragédia ambiental do litoral brasileiro em toda a história. Com a ajuda de grupos enviados pela Marinha, a população já retirou do mar e das praias mais de 5 mil toneladas do piche em 300 localidades atingidas em mais de 100 municípios em nove estados do Nordeste.


O prejuízo ambiental é imensurável, pois atinge áreas de reservas ambientais, registrando a morte de diversas espécies de vida marinha, além de prejudicar as economias locais, já que esses ambientes são também fonte de renda para mais de 144 mil pescadores artesanais, pequenos comerciantes e comunidades marisqueiras.


Praias, estuários, manguezais, ribeirinhos e populações de vários municípios foram profundamente afetados, mostrando a urgência de se tomar providências para impedir que esse desastre se agrave ainda mais. Por meio do Consórcio Nordeste, que já articula esforços de seus entes consorciados por meio de um grupo de trabalho para acompanhamento permanente, os nove governadores do Nordeste se uniram na busca de investimentos para mitigação dessa tragédia. Para eles, o Brasil não pode esperar mais.


“No entendimento dos Dirigentes Estaduais de Meio Ambiente do Nordeste, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e pelo Ministério Público Federal, sendo combatido e mitigado como deveria pelo Governo Federal e seus órgãos competentes. É preciso colocar em operação o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo (PNC), que até o momento não fora totalmente efetivado. Isso só se dará de forma concreta se o Governo Federal se dispuser a uma gestão integrada da crise com total transparência nos dados e ações, inclusive com apoio da marinha brasileira, universidades e demais pesquisadores para a definição de metodologias para identificação da origem do óleo e efetivo monitoramento dos impactos a longo prazo”, defendem os governadores.


Por outro lado, o governo Bolsonaro nunca esteve tão inerte, limitando-se inicialmente a dizer que a origem do óleo não era brasileira, portanto, ele não tinha nada a fazer e aproveitando o gancho para, mais uma vez, insinuar, que o derramamento poderia ter sido criminoso para prejudicá-lo, atirando novas pedras na esquerda e nas ONG’s.


O que o governo Bolsonaro tem de entender é que um presidente da República deve governar para todo o País e não só para seus eleitores. Independente do seu claro desprezo pela região Nordeste, obviamente por não ter vencido as eleições por aqui, é que ele, como presidente da Nação, deveria ter acionado imediatamente um plano nacional de contingência para vazamentos no mar, o que só esboçou fazer cerca de 30 dias após a incidente. É bom que se diga que omissão diante de um fato como esse também pode ser considerado crime ambiental.


O fato é que o atraso do governo em agir causou, segundo levantamento do Ibama, a contaminação de 238 praias em 89 cidades do Nordeste. São milhares de vidas afetadas. Em outras palavras: os impactos desse crime ambiental são de longo prazo, não bastassem os prejuízos já apurados até aqui, sobretudo para as comunidades do Nordeste que vivem da pesca e do turismo. Enquanto o governo segue inerte nas suas ações, a população do Nordeste vem arregaçando as mangas e retirando com as próprias mãos o óleo das suas praias, arriscando a própria saúde, mas dando uma verdadeira lição de cidadania ao governo federal.