Mais luz sobre o papel do sistema financeiro

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O presidente da Febraban – Federação Brasileira de Bancos – Fabio Barbosa, disse bem. É preciso trazer mais luz sobre o papel do sistema financeiro brasileiro. Então vamos lá. A reação dura contra o pacote econômico tem um significado diferente do que ele pretendeu dar. A preocupação real não é de preservar e reforçar o sistema financeiro com o objetivo de não prejudicar o crescimento do País.


A bem da verdade, com o processo de reestruturação do capitalismo o sistema financeiro brasileiro sempre está em busca de novas formas de acumulação, como sempre, esquecendo-se do seu papel na repartição e destinação social da riqueza.


Se estivessem tão preocupados com o crescimento do País, não usariam a justificativa da adequação à lógica do “livre mercado”, com um intenso processo de concentração bancária, uma reengenharia perversa, eliminando cerca de 800 mil postos de trabalho.


Outro fator que demonstra a “preocupação” da Febraban com a inclusão social, além do desemprego que promove, é o subemprego que cria com a terceirização. Com um volume crescente de trabalhos considerados “não bancários” com salários e direitos diferenciados, os terceirizados são explorados à exaustão. Além disso, o setor financeiro que se orgulha de “cumprir o seu papel na complexa equação econômica que busca o desenvolvimento da sociedade”, tem reiteradamente afrontado a legislação, ao permitir que não bancários façam análise de crédito, compensação de cheques e atuem nas centrais de atendimento.


A preocupação, portanto, não é com a inclusão social ou com o desenvolvimento da sociedade, ao contrário, o comportamento dos bancos tem sido usar como estratégia o crescimento da receita de serviços em detrimento da receita de créditos aos consumidores.


A que tipo de desenvolvimento se referiu então Fabio Barbosa, quando disse que “o setor financeiro tem cumprido o seu papel na equação econômica que busca o desenvolvimento da sociedade”, se segundo o FMI, em todo o planeta, é aqui, no Brasil, que vamos encontrar os juros mais altos de todos?


Pega-se o sistema na contradição quando se constata que mesmo com a redução da taxa Selic, o sistema tem trabalhado com taxas de juros elevadíssimas, e operando com alto “spread”.


Aproximadamente 30 milhões de pessoas não tem acesso ao crédito. Os canais alternativos criados para que todos tenham acesso a alguns serviços básicos, como Correios, supermercados; casas lotéricas etc., além de distorcer a função bancária, colocam em riscos trabalhadores e usuários.


É inacreditável que a elite bancária empunhe a espada de defensora do crescimento e desenvolvimento social, querendo fazer a população crer que o aumento da alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o lucro líquido) das instituições financeiras, aumento da alíquota do IOF (Imposto sobre operações financeiras) e a regulamentação das tarifas será prejudicial a todas as pessoas igualmente. Não é verdade. A hegemonia financeira, não dá ponto sem nó, eles que se autodenominam “Empresas Socialmente Responsáveis”, estão apenas fazendo marketing, porque a única responsabilidade que eles tem é a de concentrar cada vez mais lucros.


Quanto a Reforma tributária, para que seja justa, é preciso ser debatida com toda a sociedade, e não do jeito que a elite pretende. Em uma efetiva justiça distributiva, os ricos contribuem mais que os pobres.


O que não se admite é esse tipo de discurso e articulação com a mídia para enganar a população. Banqueiros não pensam no social, suas energias estão direcionadas para concentrar cada vez mais lucro.

Neide Fonseca – Diretora da Contraf-CUT