Manifestos e debates fortalecem democracia

53


Desde junho de 2013, quando desencadearam as recentes manifestações populares no Brasil, surgem novos debates e uma série de questionamentos sobre o exercício da democracia, o dever do Estado e o papel da mídia. A sociedade brasileira está redescobrindo os espaços de expressão, a importância de ir às ruas e lutar por melhorias na educação, no transporte, na saúde, na segurança e no emprego. A pauta é ampla, mas converge na defesa por um Estado mais atuante. Este cenário afeta a organização da sociedade brasileira e a relação com os poderes oficiais.


Toda essa movimentação é legítima, mas tem sofrido com a resistência de setores da sociedade, que é amparada pela parcialidade da cobertura jornalística de alguns meios de comunicação. Tentativas de marginalizar os protestos ao enfatizar nos noticiários a “ação direta” e violenta de minorias – os chamados “Black Blocs”, que atuam na destruição de símbolos do Capitalismo, como fachadas de grandes lojas e de agências bancárias – acabam por deturpar o sentido das manifestações e atacar a sua legitimidade. Isso não é à toa, já que a atuação omissa da grande mídia é justamente um dos alvos mais frequentes do grito dos manifestantes.


A trágica morte do cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, durante protesto no Rio de Janeiro despertou, por sua vez, questionamentos sobre a seleção midiática do que é mais relevante. O que se vê é a quase indiferença de grande parte da imprensa quanto a vítimas fatais em outros protestos – muitas delas por conta da própria ação policial – e a espetacularização de determinados casos. Atos violentos são inaceitáveis, sejam eles de forças oficiais ou de civis. Mas é preciso ter consciência de que, para além de depredações, bombas, manifestantes exaltados e reação desproporcional da polícia, há a insatisfação popular. Ela é real e precisa ser ouvida.


Manifestar-se é um direito constitucional e ajuda no fortalecimento da democracia. Qualquer tentativa de inibir esse direito ou desmoralizar movimentações populares, seja por parte de políticos, de formadores de opinião, de camadas conservadoras da sociedade ou da grande mídia, é um ataque direto ao estado democrático de direito. O movimento sindical, veterano em protestos por mais justiça social e pela garantia do exercício da cidadania, apoia o manifesto popular pacífico. Não se deve permitir que arautos do retrocesso, do conservadorismo, do fascismo e da ditadura impeçam as transformações que a sociedade brasileira precisa.