Movimento cultural Hip Hop luta pela transformação social

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Aos oito anos de idade, “eu fugia de casa e ia pra Praça do Ferreira. Eu pintava super-heróis com carvão, no chão da praça”. Foi assim que o grafiteiro Preto Rap, 31, começou a se comunicar de forma alternativa com o mundo. Negro, pobre e morador do Pirambu, Preto dificilmente conseguiria expressar seu descontentamento quanto às desigualdades sociais na grande mídia. Preto Rap faz parte do movimento Hip Hop de Fortaleza.

O Hip Hop é um movimento cultural que surgiu na Jamaica na mistura entre a tradição africana do canto falado e a animação dos bailes dos guetos jamaicanos. Na década de 70, migrantes jamaicanos levaram o movimento para os subúrbios negros e latinos de Nova Iorque e, de lá, ele se espalhou pelo mundo. São Paulo é considerada o berço do movimento no Brasil. Nos anos 80, grupos identificados com as causas afirmativas da população negra organizavam encontros nos metrôs paulistas. Atualmente, o movimento discute as injustiças sociais de forma mais ampla.

A cultura Hip Hop é constituída por quatro elementos: o MC (Rap), o DJ, o grafitti e o breakdance (dança de rua). Preto Rap também é raper, mas sua especialidade é o grafitti. O grafiteiro participa de projetos desenvolvidos por um grupo de Hip Hop do bairro Pirambu e adjacências. “Alguns jovens do movimento pichavam, que é uma forma de se expressar. Mas uma expressão de gueto. Com o grafitti, a gente incorpora no cotidiano da juventude os questionamentos sobre sociedade, além de legitimar o protesto deles”, explica Preto. Os jovens que participam do movimento discutem questões ligadas ao ambiente, cidadania, formação política e social, dentre outras. Os vários movimentos do estado integram há seis anos o Fórum Cearense de Hip Hop.

Aos poucos, o Hip Hop ganha força e assusta a grande mídia. Não é difícil de se ver na TV, por exemplo, rapers adequados ao ideal burguês, questionando pouco ou nada as desigualdades sociais. Preto desconfia desse espaço cedido aos grupos de Hip Hop pela grande mídia. “Quem é opressor, não quer que o pobre se expresse. A mídia dá espaço pra alguns grupos, mas eles acabam se importando mais com a gravadora, com o lucro, do que com a letra do rap”, justifica Preto.