A decisão é contra o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e o MST Ceará, e exige a imediata retirada das famílias do local. Acontece que o TRF desconhece os detalhes da história. O assentamento foi criado em 2007, na antiga Fazenda Tapuio, na época pertencente à empresa Fortaleza agroindústria S.A. (FAISA). Esta empresa usou o imóvel para pagar dívidas trabalhistas. Além disso, o imóvel era mais um latifúndio improdutivo (com 940 hectares), tanto que em 17 de janeiro de 2007 foi publicado decreto presidencial de desapropriação. A CIALNE adquiriu a terra de uma das ex-empregadas da FAISA em agosto daquele ano, quando a terra já era, legalmente, dos assentados. Desde então, a CIALNE tenta invadir a área para expulsar as famílias utilizando, inclusive, segurança privada para intimidar os trabalhadores.
As famílias não se renderam às ameaças e agressões sofridas e conseguiram afastar um policial que prestava apoio às ações ilegais da empresa, e encaminharam denúncias contra a WS Segurança e a CIALNE. Além disso, a comunidade obteve liminar de manutenção de posse contra a CIALNE, por parte do Juiz de São Luís do Curu à época.
Agora, o argumento utilizado pela empresa é de que a área foi invadida e que isso a impediria de ser desapropriada. Entretanto, a informação não procede, pois os agricultores só entraram no imóvel depois de realizados todos os atos da desapropriação (vistoria, decreto presidencial, avaliação). Derrotada na primeira instância, a CIALNE teve decisão favorável junto ao Tribunal Regional Federal, que argumenta que a lei visa punir as ocupações de terra realizadas por movimentos sociais. Segundo a procuradora do Incra, Evelyn Greyce de Barros, a decisão – de expulsão dos agricultores após dois anos de consolidação de assentamento – é inédita no Ceará.
A decisão do TRF desconsidera que o INCRA já investiu R$ 112.500,00 em créditos de apoio inicial e de construção de casas, além de R$ 320.000,00 que ainda não puderam ser usados, devido a decisão do TRF ordenando a suspensão dos procedimentos relativos ao assentamento. A própria CIALNE recebe indenização pela desapropriação. As famílias já receberam seus créditos e realizaram inúmeras benfeitorias na terra, além da produção de alimentos e criação de animais.
O INCRA e o MST Ceará já estão recorrendo da decisão e o Movimento está buscando articulações políticas e sociais para reverter a situação, injusta para os assentados.
O MST considera, com razão, que este é mais um ataque do agronegócio contra a Reforma Agrária. O Judiciário não pode se submeter ao poder dos grupos econômicos. Os trabalhadores estão decididos a resistir e para isso pedem o apoio da sociedade para que essa decisão possa ser revertida.