O LUCRO NÃO É MAIS IMPORTANTE DO QUE A VIDA

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Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará


O rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Brumadinho (MG) é a demonstração do fracasso das privatizações. O crime ambiental, social e humano ocorrido no último dia 25/1 é mais uma prova de que as privatizações conduzidas pelo governo federal não têm se revertido em benefício da população, pelo contrário, trazem prejuízos sociais e ambientais difíceis de serem reparados. Isso está demonstrado com o passivo ainda deixado pela barragem do Fundão, em Mariana, que se rompeu em 2015.


O lucro não pode ser mais importante do que a vida das pessoas. A ruptura da barragem de Brumadinho já é considerada a maior tragédia ambiental da história do País e a grande maioria das vítimas é de trabalhadores que perderam suas vidas nas dependências da empresa.  Antes, o primeiro lugar do ranking de tragédia ambiental era a catástrofe de Mariana (MG), em novembro de 2015, da barragem de Fundão. Ambos os casos, a responsabilidade é da mineradora Vale do Rio Doce.


A escolha de uma definição para o fato em Brumadinho como “desastre” é no mínimo mascarar a realidade. Brumadinho e Mariana não são acidentes, são crimes! São tragédias ambientais que se repetem. Mas o presidente Bolsonaro e o ministro Ricardo Salles chamam o Ministério do Meio Ambiente de “mera indústria de multas”. Insisto na pergunta: quanto vale a vida e todo o sofrimento das pessoas, senhor presidente?


Brumadinho e Mariana não foram acidentes, mas crimes promovidos pela ausência do Estado e pelo abuso empresarial, que não se importam com a vida das pessoas. Como alguém constrói um refeitório e a administração da empresa nas margens abaixo de uma barragem? Pessoas em Brumadinho denunciam que as sirenes da companhia não tocaram, a barragem rompeu sem um plano de evacuação, nem de atendimento aos atingidos.


No meio do caos, quem ampara as pessoas é o Poder Público e uma rede de solidariedade que se formou sem que ninguém fizesse um chamado oficial. São pessoas em rede solidária extraordinária que ajudam outras pessoas. O descaso da empresa é repugnante, é revoltante, bem como dos órgãos fiscalizadores, que deveriam ter se antecipado e criado condições de segurança para os trabalhadores e moradores da região.


Para o Ministério Público do Trabalho (MPT), essa tragédia representa um dos mais graves eventos de violação às normas de segurança do trabalho na história da mineração no Brasil e anunciou que vai investigar o crime socioambiental provocado pelo rompimento da barragem da Vale do Rio Doce em Brumadinho (MG), com o objetivo de apurar responsabilidades criminal, civil e trabalhista.


Quanto à culpa ser da privatização, importante lembrar que a Companhia Vale do Rio Doce foi privatizada em maio de 1997, durante o governo FHC, cuja gestão foi marcada pela predominância do neoliberalismo, como a defesa das privatizações, mas ainda assim, com menos intensidade do que já anuncia o atual governo.


Os responsáveis por essa tragédia não podem ficar impunes. Às vítimas de Brumadinho, nossa solidariedade!