“O novo”, o “velho” e o bobo no Dia Nacional de Luta

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Procura-se minimizar o Dia Nacional de Luta convocado pelas centrais sindicais a partir de uma comparação cinematográfica com os protestos de caráter político ocorridos em junho. É uma comparação indevida. A nova moda ideológica é falar em “velho” e “novo”. Aquelas mobilizações tiveram clara natureza política, apontando, difusamente, para autoridades constituídas – fosse o prefeito, o vereador, o guarda da esquina, o governador, a presidente da República e assim por diante.


Eram formadas por uma massa de jovens, em sua maioria estudantes, com ideias diversas e até antagônicas. Havia anarquistas, libertários e fascistas, que chegaram a carregar faixas pedindo a volta dos militares ao poder. Interessados em manter Dilma Rousseff sob pressão, os grandes grupos de mídia adoraram. Os protestos trouxeram benefícios palpáveis, como redução nas tarifas e obrigaram as instituições políticas a responder a demandas há muito tempo ansiadas pela população. Velho? Novo?


O Dia Nacional de Luta foi um ato das lideranças de trabalhadores, que, como apontou o jornal espanhol El País, pela primeira vez em 22 anos foram às ruas numa mobilização nacional para defender seus interesses e cobrar providências do governo. Não foi um grande espetáculo nem um ato de ruptura com o governo Dilma, como gostaria a oposição. Mas foi um aviso definido numa situação bem específica.


É preciso muito esforço para não enxergar sua importância – apesar da desvantagem numérica e da falta daquele glamour midiático de uma ação comandada por pessoas com menos de 24 anos.


Os sindicatos pedem atenção às aposentadorias, questão essencial num País em processo acelerado de envelhecimento. Também denunciam as políticas de terceirização, que ameaçam progressos históricos obtidos a partir da CLT. Não querem o “novo”, se isso significa criar um mundo pior que o “velho”.


Enfraquecer as organizações do movimento sindical de todas as maneiras constitui um objetivo estratégico do conservadorismo brasileiro desde 1954. Novo, velho? Não vale fazer papel de bobo. E é evidente que dividir e enfraquecer o movimento sindical será um objetivo essencial da oposição para 2014, quando se joga a sucessão presidencial de Dilma Rousseff, desde já a mais difícil disputa política para os trabalhadores desde 2002.


Falar em “acomodação” e “peleguismo” é uma ação de fundo eleitoral, para ajudar aquele “novo” que ninguém sabe quem será. Tenta-se, com ela, esconder benefícios reais conseguidos nos últimos anos. A oposição, em suas várias máscaras, está pronta para cumprir seu papel. Por trás dela encontra-se o rumo das conquistas arrancadas depois de 2002 e o que será feito com elas no pós-2014. Este é o debate que o Dia Nacional de Luta colocou. Convém não desprezá-lo.


Paulo Moreira Leite – Jornalista