Os bancos e a crise do emprego

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No estado em que o sistema bancário se encontra, sólido e lucrativo, poderia garantir empregos de qualidade para seus funcionários e financiar o desenvolvimento da sociedade brasileira e do sistema produtivo.


Tanto o título quanto a abertura deste texto são citações, com pequenas alterações, ao texto feito pelo presidente da Fenaban e do ABN Real, Fábio Barbosa, publicado no domingo, 16/9, na Folha de S.Paulo.


Nele, Barbosa fala da melhora da economia brasileira e destaca que “o Brasil tem bancos sólidos. Mais do que isso, como atesta o professor Antonio Delfim Netto em entrevista para o livro de 40 anos da Febraban, que será publicado em novembro: ‘Estamos no Estado da arte. Somos tão sofisticados quanto os Estados Unidos e infinitamente mais sofisticados que o resto do mundo; não tem comparação’….


Com certeza, ainda há vulnerabilidades na economia brasileira. Mas elas dificilmente serão encontradas no sistema bancário. No estado em que esse sistema se encontra, sólido e lucrativo, ele contribui para blindar nossa economia da turbulência dos mercados financeiros internacionais”.


A citação ao artigo do presidente do ABN tem o objetivo de lançar um desafio: já que os bancos brasileiros estão assumidamente em ótima situação, o que é mostrado por todos os lucros recordes que vêm sendo publicados, poderiam ajudar a melhorar outro lado da economia brasileira, a preservação e a geração de novos empregos. Como ele mesmo afirma que o sistema é sólido e lucrativo, poderia estender esses benefícios a toda a sociedade brasileira.


Um dos compromissos possíveis é assegurar, por exemplo, que mesmo com a fusão com o Santander, o Barclays, ou qualquer outro banco, o ABN Real garanta que ninguém será mandado embora por conta do negócio. Aliás, seria apenas aplicar a legislação que esses bancos internacionais cumprem em seus países de origem. Lá, no caso de fusões, garante-se a manutenção dos empregos.


No caso da federação dos bancos, que dirige, Fábio Barbosa também poderia fazer um pacto para que os bancos parem de terceirizar de maneira fraudulenta os postos de trabalho. Ou seja, colocar o seu, o meu, o nosso sigilo bancário nas mãos de empresas que manipulam e fazem compensação dos documentos dos clientes apenas para pagar salários menores e acabar com direitos garantidos aos bancários.


É bom também que os clientes saibam que quando utilizam caixas eletrônicos, bancos postais, entre outros, deixam seus cheques e documentos em envelopes, na realidade eles vão parar nas mãos de funcionários que trabalham até 14h por dia, sem direito a pausa até para lanche e que recebem salários próximos ao mínimo, trabalhando para o setor mais rico da economia brasileira.


Um outro pacto possível é com a sociedade brasileira. O sistema bancário poderia tratar com respeito seus clientes, direcionando pequena parte dos seus lucros para acabar com as filas, diminuir a cobrança excessiva de tarifas e juros, além de financiar o desenvolvimento, a produção, uma sociedade mais justa e com distribuição de renda para que o Brasil não tenha apenas um sistema financeiro entre os mais sofisticados do mundo, mas um país que atinja grau de excelência em justiça social. Está lançado o desafio.

Vagner Freitas – Presidente da Contraf-CUT