Os desafios do segundo mandato

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Eis o desafio de Lula: superar seu próprio primeiro governo, largamente aprovado nas eleições recém-findas. Na verdade, segundo governo é um novo governo, não é apenas a continuidade do anterior. As exigências são outras e maiores, há um controle maior da ‘máquina’, ou deveria haver, e por isso a desculpa de que o governo está apenas no início ou coisa que o valha, desta vez não cabe nem é aceita por ninguém. A população quer avanços e resultados logo, no que não deixa de ter razão.

Será que Lula é capaz de superar-se? Tenho tranqüilidade em afirmar que sim, ainda que possa ser relativa ou totalmente suspeito, por razões óbvias. Ter um razoável grau de otimismo faz bem à saúde e à vida. O próprio tema central do segundo governo já demonstra esta convicção e vai ser o termômetro: desenvolvimento com distribuição de renda e educação de qualidade. Quando, em cinco séculos, o Brasil ou algum governo conseguiu traçar uma meta tão ousada e corajosa? Temos duas décadas perdidas, a de oitenta e a de noventa, praticamente sem crescimento econômico, que dirá desenvolvimento. A concentração de renda só fez aumentar neste período.

Propor uma meta de unir desenvolvimento com distribuição de renda e educação de qualidade pode ser um desafio a juntar todos os brasileiros e brasileiras. As condições dadas para tanto existem. Criando-se uma consciência, através dos movimentos sociais, das pastorais das igrejas, do funcionalismo público, de setores médios organizados da sociedade, de ONGs, de que só haverá desenvolvimento se este vier acompanhado de distribuição de renda, de que assim pode-se criar um mercado interno de massas, onde a dignidade e a qualidade de vida das pessoas são valores que interessam a todos, é possível pensar, sim, em vencer o desafio.

O mérito do presidente Lula terá sido acordar a sociedade para um objetivo e estimulá-la a agir e reagir positivamente. Ninguém segura nem derruba a força da decisão e do sonho de um povo. A montanha de votos recebidos por Lula no segundo turno seguramente sinaliza para o futuro, para um amanhã onde todos os valorosos/as filhos e filhas do povo possam viver dignamente, como seres humanos, como cidadãos, como protagonistas da construção coletiva e solidária de uma comunidade, de um País, de uma Nação.

O desafio está posto e é plenamente possível enfrentá-lo. E vencer. Me cobrem no final de 2010.

Selvino Heck
Fundador e Coordenador do Movimento Fé e Política