Pesquisa nacional aponta 49 mortes em assaltos envolvendo bancos em 2011

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Pesquisa nacional mostra que 49 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2011, uma média de quatro vítimas fatais por mês, o que representa um aumento de 113,04% em relação a 2010, quando foram registradas 23 mortes. O levantamento foi realizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), com base em notícias da imprensa e apoio técnico do Dieese.


São Paulo (16), Rio de Janeiro (9), Goiás (4), Paraná (4) e Rio Grande do Sul (4) foram os estados com o maior número de casos. A principal ocorrência foi o crime de “saidinha de banco”, que provocou 32 mortes. Já a maioria das vítimas foram clientes (30), seguido de vigilantes (8) e policiais (6).


No Ceará foi contabilizada pela pesquisa da Contraf-CUT apenas uma morte, mas 49 ataques foram registrados durante 2011, com relatos de pessoas feridas, sequestros e assaltos com reféns. A morte que aparece na pesquisa foi do vigilante João Batista Souza Coelho, de 36 anos e que trabalhava na empresa Corpvs. Ele foi atingido na cabeça durante uma emboscada ao carro-forte que dirigia pela rodovia estadual CE-362, entre os municípios de Uruoca e Martinópole, na Região Norte do Estado do Ceará, no dia 14/1. De acordo com informações dos três companheiros que sobreviveram, os tiros disparados pelo bando acabaram por acertar, através da escotilha, a cabeça do motorista. Os assaltantes invadiram o carro-forte, explodiram o cofre e roubaram os malotes que continham R$ 1,3 milhão. O corpo do vigilante foi jogado para fora do veículo pelos bandidos. João Batista deixou três filhos pequenos.


Para a Contraf-CUT e a CNTV, essas mortes refletem, sobretudo, a carência de investimentos dos bancos para prevenir assaltos e sequestros. Segundo dados do Dieese, os cinco maiores bancos que operam no País apresentaram lucros de R$ 37,9 bilhões de janeiro a setembro de 2011. Já as despesas com segurança e vigilância somaram R$ 1,9 bilhão, o que significa 5,2%, em média, na comparação com os lucros. “Essas mortes comprovam o descaso e a escassez de investimentos dos bancos na proteção da vida de trabalhadores e clientes, bem como revelam a fragilidade da segurança pública diante da falta de policiais e viaturas nas ruas e ações de inteligência para evitar ações criminosas”, avalia o diretor da Contraf-CUT e coordenador do Coletivo Nacional de Segurança Bancária, Ademir Wiederkehr.


“Esses números assustadores reforçam a necessidade de atualizar a lei federal nº 7.102/83, que se encontra defasada diante do crescimento da violência e da criminalidade. Precisamos de um estatuto de segurança privada com medidas eficazes e equipamentos de prevenção para garantir a proteção da vida, eliminar riscos e oferecer segurança para trabalhadores e clientes”, salienta o presidente da CNTV, José Boaventura Santos.


Mortes por estados – São Paulo registra não somente o maior número de ocorrências, mas também o crescimento mais alarmante na comparação entre 2010 e 2011. O total de mortes saltou de cinco para 16, uma evolução assustadora de 220%. O Rio de Janeiro ficou em segundo lugar. O número de assassinatos passou de três para nove, uma disparada preocupante de 200%. Em seguida aparecem empatados Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul com quatro mortes cada um.

Tipos de ocorrências – O levantamento aponta que os crimes de “saidinha de banco” dispararam em 2011, tendo causado 32 mortes, 65,31% das ocorrências. Em 2010 foram verificadas 10 casos fatais. Isso representa um aumento de 220%.


A Contraf-CUT e a CNTV defendem ações preventivas que visem enfrentar esse crime que apavora e mata. “Esse crime começa dentro dos bancos e, para combatê-lo, é preciso evitar a visualização dos saques de clientes nos bancos por olheiros, através de medidas como a instalação de biombos entre a fila de espera e os caixas, e de divisórias individualizadas entre os caixas, inclusive os eletrônicos”, destaca Ademir. “Proibir o uso do celular nos bancos é medida ingênua, inócua e ineficaz”, salienta. “Além disso, é fundamental a colocação de portas de segurança com detectores de metais antes do autoatendimento, câmeras internas e externas de monitoramento em tempo real nos espaços de circulação de clientes, e vidros blindados nas fachadas”, aponta Boaventura.


Outra medida é a isenção de tarifas de transferência de recursos (DOC, TED, ordens de pagamento), como forma de reduzir a circulação de dinheiro na praça. “Muitos clientes sacam valores expressivos para não pagar tarifas e viram alvos de assaltantes”, justifica Ademir. Outro crime que preocupa é o transporte de valores, que dobrou no período. “Ocorreram duas mortes em 2011, ambos de policiais que faziam ‘bico’, o que é ilegal e mata”, alerta Boaventura. “Esse serviço deve ser prestado por vigilantes, de acordo com o que estabelece a lei federal nº 7.102/83”, destaca.


“Conquistamos uma nova cláusula na Convenção Coletiva Nacional dos Bancários em 2011, proibindo os bancos de utilizar funcionários para fazer transporte de valores”, frisa Ademir. “Várias instituições têm utilizado ilegalmente bancários, conforme revelam as multas aplicadas pela Polícia Federal”, explica o diretor da Contraf-CUT. Também preocupa a insegurança no abastecimento de caixas eletrônicos.

Perfil das vítimas – A pesquisa revela que os clientes são cada vez mais as principais vítimas em assaltos envolvendo bancos. Na comparação entre 2010 e 2011, o número de mortes subiu de 12 para 30, um crescimento de 150%. Quase todos foram assassinados em “saidinhas de banco”. Os vigilantes ocupam o segundo lugar entre as vítimas, seguidos de transeuntes e policiais. Um bancário também foi morto.

Carência de investimentos dos bancos – Conforme estudo feito pelo Dieese da Contraf-CUT, com base nos balanços publicados de janeiro a setembro de 2011, os cinco maiores bancos lucraram R$ 37,9 bilhões e destinaram R$ 1,9 bilhão em despesas com segurança e vigilância. Na comparação com os números de 2010, constata-se uma queda de 5,45% para 5,20% na relação entre o lucro e os gastos com segurança. “Esses dados comprovam tecnicamente o que observamos há muito tempo: os bancos não priorizam a vida das pessoas, pois gastam muito pouco com segurança em comparação com os seus lucros estrondosos”, salienta Ademir.


“Está na hora de os bancos tratarem as despesas de segurança e vigilância como investimentos, colocando a vida das pessoas em primeiro lugar, a fim de acabar com essas mortes em assaltos, que também deixam inúmeros feridos e traumatizados”, aponta Boaventura. “Os estabelecimentos não podem continuar vulneráveis, expondo ao risco a vida das pessoas, especialmente clientes e trabalhadores, que acabam sendo vítimas de assaltantes cada vez mais atrevidos, aparelhados e explosivos”, conclui o diretor da Contraf-CUT.