POR QUE PRIVATIZAR TUDO NÃO É A SOLUÇÃO?

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Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará


Todo dia é anunciado um retrocesso, um ataque aos trabalhadores e a toda a sociedade. Por exemplo, na última semana o governo admitiu que estuda congelar o Salário Mínimo, o que pode detonar a nossa economia ainda mais. As lutas não estão separadas umas das outras porque os interesses do capital se encontram muito bem alinhados quando se trata se apropriar de direitos conquistados, por isso a importância de estarmos juntos contra essa agenda de destruição.


Umas dessas agendas que temos de combater com urgência é a da entrega do patrimônio público aos grandes grupos estrangeiros. Você consegue pensar em algum serviço que tenha melhorado após sua privatização? O governo argumenta que os serviços públicos são ineficientes, mas não existe um só exemplo de empresa privatizada que tenha realmente melhorado o serviço prestado à população, como nos casos da energia e telefonia. Além de não melhorar a eficiência e de não trazer ganhos fiscais significativos a nação, a privatização – especialmente de bens estratégicos com a água, a energia e o petróleo – ameaçam nossa segurança energética, nossa soberania e nossa capacidade de desenvolvimento nacional.


Por sua vez, o ministro da Economia, Paulo Guedes, tem alardeado em eventos dentro e fora do Brasil sua vontade de privatizar tantas quantas empresas estatais forem possíveis, inclusive os maiores bancos públicos do país: a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Juntas, essas duas instituições são as principais responsáveis pela concessão de crédito imobiliário e agrícola no país, além de estímulo às pequenas e médias empresas. Até mesmo os bancos regionais, como o BNB, podem estar na mira.


Em janeiro de 2018, o Dieese demonstrou que as empresas estatais distribuíram, entre 2002 e 2016, mais de R$ 285 bilhões em dividendos para a União, ou seja, para os cofres públicos. Somente os bancos públicos distribuíram R$ 203 bilhões desse total. Vender esses ativos, na prática, significa também abrir mão de vultosos lucros que podem ajudar a compor o orçamento público federal em áreas como saúde, educação e segurança pública.


Por que o Estado vai vender empresas lucrativas que ajudam no desenvolvimento interno e geram empregos, exercendo um papel estratégico para o país? Além disso, os bancos públicos cumprem uma função social, por meio do fomento do desenvolvimento regional, por exemplo, que não se verifica nos bancos privados – cujo foco de atuação é exclusivamente em áreas onde se pode lucrar. Isso explica, por exemplo, a baixa presença de bancos privados nas regiões mais pobres e menos desenvolvidas do país. Em estados como Roraima, Pará, Acre, Tocantins e Piauí, os bancos públicos como Caixa e BB chegam a representar até 80% das agências.


O avanço do crédito, as políticas públicas, a habitação, a agricultura familiar, tudo isso é importante para pagar os salários, criar renda, de modo que as pessoas possam poupar, de modo que as empresas possam ganhar, gerando um círculo virtuoso que expande e movimenta a nossa economia. Precisamos de um governo com projeto de desenvolvimento voltado para a geração de emprego e renda, com justiça social e dignidade para todos e seguiremos firmes nessa luta.