Carlos Eduardo, presidente do Sindicato dos Bancários do Ceará
Desde que Bolsonaro assumiu a presidência da República, já perdemos as contas de quantas vezes utilizamos esse espaço para falar sobre a importância de defendermos a nossa democracia. Em inúmeros episódios, o presidente tem se utilizado de datas e momentos específicos para bradar suas intenções e predileções totalitárias e fascistas.
Recentemente, mesmo em meio a uma pandemia mundial que já contaminou milhões e matou milhares de pessoas no mundo inteiro, ele subiu na carroceria de um caminhão e discursou com ferocidade para uma aglomeração de pessoas que pediam o fim do isolamento, o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e, pasmem, a volta da ditadura militar e do AI-5. Em alto e bom som, ele disse que não tem interesse em negociar com quem quer que seja, entre outros impropérios nada democráticos. Isso revoltou várias autoridades, mas no dia seguinte, Bolsonaro foi à imprensa, falou que foi mal interpretado, que não foi bem assim, que respeita a Constituição, mas finalizou com uma expressão perigosa: eu sou a Constituição.
A posição do presidente da República merece, no mínimo, o nosso repúdio total. Pois além de incentivar aglomerações, arriscando a saúde e a vida das pessoas, minimizando a gravidade do Covid-19, ainda prega claramente contra as instituições democráticas. A participação de Bolsonaro numa manifestação como essa viola a Constituição Brasileira e constitui crime de responsabilidade passível de afastamento do cargo. Além disso, mais uma vez evidencia a corresponsabilidade de Bolsonaro pelas contaminações e mortes advindas da quebra do isolamento insuflado e promovido por ele, que o próprio diz não ter nada a ver com isso, pois “não é coveiro”.
O pronunciamento de Bolsonaro, de caráter golpista, autoritário e subserviente aos interesses do capital internacional, num tom de clara beligerância, está longe de ser considerado fruto de sua desmedida ignorância, irresponsabilidade ou incapacidade. Ao contrário, evidencia o pensamento de quem nunca escondeu seu desprezo pela democracia e suas instituições.
Além disso, o compromisso de Bolsonaro com o poder econômico e o grande empresariado está acima de tudo, até mesmo da vida da população que ele teria a obrigação de proteger. A pandemia do Covid-19 se abate sobre um Brasil que já estava em crise, fruto da ampliação da desigualdade social, da dependência externa e do “estado de exceção”, como resultado da aplicação do programa dos golpistas.
É preciso que as instituições agredidas reajam à altura das violações de Bolsonaro com ações concretas e legais que mudem o curso da trajetória autoritária traçada por ele. A defesa intransigente da soberania e da democracia depende da mobilização massiva da classe trabalhadora, em toda a sua diversidade, pela defesa dos direitos – que vêm sendo ampla e sistematicamente atacados e destruídos pelo programa ultraneoliberal daqueles que colocaram Bolsonaro na Presidência.
Reafirmamos aqui, mais uma vez, nosso compromisso com a democracia, as liberdades democráticas e o estado democrático de direito, porque a classe trabalhadora é sempre a maior vítima de qualquer regime autoritário. Estaremos sempre mobilizados e lutando por um país que reconheça o valor e a importância da classe trabalhadora, reduza as desigualdades e para derrotar esse governo antes que ele leve o Brasil ao abismo. Nossa luta é todo dia!