As crianças que nascem com lábio leporino, má formação congênita, sabem muito bem o quanto custa um sorriso. Ao contrário do que muitos pensam, o tratamento é longo, envolve vários profissionais e exige muita dedicação dos pacientes. Segundo o especialista em cirurgia bucomaxilar do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), Francisco Ferreira, na maioria dos casos são necessárias mais de uma operação para que a criança tenha êxito no tratamento. Ferreira afirma que além das cirurgias, a criança deve passar por tratamentos odontológico, psicológico e fonoaudiológico.
A fissura labiopalatal é uma abertura do lábio ou palato do recém-nascido que pode ser ocasionada principalmente pela má alimentação da mãe durante os três primeiros meses de gestação e por problemas hereditários.
O Hias é referência no Estado nessa especialidade e realiza, em média, 25 cirurgias por mês. No entanto, esse número não atende à demanda. “Há mais de mil pessoas à espera do tratamento só no Albert Sabin. E a cada dia nascem mais crianças com o problema”, ressalta Ferreira. Além disso, anualmente, a ONG norte-americana Operation Smile vem a Fortaleza e realiza uma semana de mutirão. Esse ano a campanha deve acontecer em novembro.
O desconhecimento dos fatores que geram a deformidade e da existência de tratamento colabora para que muitos pais só procurem os hospitais especializados quando os filhos estão em uma idade considerada “avançada” para a realização da primeira operação. Para Ferreira, quanto mais cedo o tratamento for iniciado, melhor.
Uma das principais dificuldades apontadas pelos pais é o preconceito que as crianças sofrem nas escolas. Constrangido com as piadas que os colegas faziam, Nicolas Silva Santos, sete anos, pediu à mãe para ser operado. “Ele tinha vergonha da fala dele e ficava triste com as brincadeiras dos outros meninos”, afirma a mãe, Glauciane Castro.
Para as crianças do Interior é bem mais difícil manter o tratamento, pois muitos pais não têm dinheiro para pagar as passagens e não têm parentes em Fortaleza que os acolham durante o processo. Muitas dessas crianças interrompem o tratamento na metade, pois ao voltar para as suas cidades não encontram atendimento fonoaudiológico e, na maioria das vezes, não conseguem encaminhamento para a Capital, devido à grande procura.