O professor do curso de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Leite Jr., escreveu um cordel sobre as denúncias feitas no livro “A Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Jr. Zé Leite Jr. é também poeta, ensaísta, artista plástico, tradutor e professor de Esperanto. A Tribuna Bancária divulga aqui o trabalho do escritor. Confira:
A palavra está na moda,
Meu compadre já ouviu?
No jornal sai quase nada,
Rádio pouco repetiu,
E mesmo a televisão,
Mas um novo palavrão
Escandaliza o Brasil.
Mesmo quando a grande imprensa
Se cala e não quer dizer,
O povo não se intimida
E faz a história valer.
Por isso esta poesia
Trata da privataria
Como o povo quer saber.
“Que privataria é essa?”
É a pergunta do momento.
Privataria, compadre,
É um estranho cruzamento:
De um lado privatizar,
De outro piratear,
É esse o entendimento.
Jornalista Élio Gáspari
É o pai dessa expressão,
Que não viu no dicionário
Outra determinação
Para tanta baixaria
E tanta pirataria
Pilhando nossa nação.
Pirata não é de hoje.
Nessa costa brasileira,
Desde o tempo de Cabral
Tremula essa bandeira.
No mastro da caravela,
Em cima já estava ela
Com sorriso de caveira.
Amaury Ribeiro Júnior,
Pesquisando o mesmo tema,
Desenterrou o tesouro
Escondido pelo esquema
Do governo mais sacana:
“Privataria Tucana”
É o nome do sistema.
Em toda pirataria
Existe sempre uma ilha
Onde se enterra a fortuna
Numa praia a longa milha.
É o paraíso fiscal
E o pecado original
Na formação de quadrilha.
No discurso dos tucanos,
Era outra a intenção.
Diziam que as estatais
Eram um peso pra nação.
Melhor seria vender
E depois se converter
O apurado em aplicação.
Aplicação financeira,
Que este poeta não mente.
Aplicação no mercado
Que faz usura com a gente,
Que pega nosso dinheiro,
Despacha pro estrangeiro,
E o país não vai pra frente.
Fingindo modernizar
A riqueza nacional,
Os tucanos renovaram
A velha história naval,
Trazendo a pirataria,
Ou seja, a privataria
No panorama atual.
E como é que funcionava
Essa moderna armação?
Amaury Ribeiro Júnior
Revelou o esquemão.
O dinheiro da pilhagem
Passava pela lavagem
E retornava à nação.
No comando do navio
Que pilhou a nossa terra
Gritava um velho tucano,
Não menos que José Serra:
“Terra à vista, afinal!
É o paraíso fiscal,
Onde o dinheiro se enterra!”
Fernando Henrique Cardoso
Deu a Serra o ministério
Que faz o planejamento.
Debaixo do homem sério,
Um corsário se encondia,
E toda a privataria
Começava o seu império.
Por dez anos sucessivos
Até o ano dois mil,
Mais de sessenta empresas
Se venderam no Brasil.
Seguindo Collor de Mello,
FHC, com o martelo,
Leiloou de modo vil.
A grande imprensa onde estava?
Simplesmente aplaudia
O leilão do patrimônio
Que o brasileiro perdia.
Houve muita conivência,
Corrupção e indecência,
Em toda a privataria.
Esse esquema não poupou
Informações sigilosas
Sobre dados tributários
De famosos e famosas.
Por meio da espionagem
Preparava-se a lavagem
Nas formas mais duvidosas.
Nas Ilhas Virgens Britânicas,
Foi enterrado o tesouro
Que pertence a nosso povo.
Depois todo esse ouro
Fingido de investimento
Voltou pro contentamento
De quem deu todo esse estouro.
Ao longo da nossa história,
Impera a pirataria.
Não só francês e holandês
Forma essa confraria.
No tempo colonial,
Já vinha de Portugal
A mesma parifaria.
De nossa terra levaram
O pau-brasil e a riqueza
Que está debaixo do chão.
Agiram com esperteza
Contra o índio inocente,
Escravizando essa gente
Em nome da realeza.
Para o trabalho forçado,
Trouxeram a gente africana.
Nos engenhos a amargura
Da plantação de cana
Transformava-se em doçura
Do açúcar e rapadura
Na mesa de quem afana.
No Império esse sistema
Teve continuação.
Quem a terra cultivava
Dela não tirava o pão.
No campo era chibata;
Lá fora a negociata
De algum pirata barão.
Veio o tempo da República,
E o povo trabalhador
Tem conquistado direitos.
O voto tem seu valor,
Muito mais que antigamente,
Mas não falta, minha gente,
Pirata e explorador.
A riqueza da nação
Pertence a quem trabalha.
Chega de privataria
E de viver de migalha.
No mundo do capital
Ser pirata é natural,
Eis aí nossa batalha.
O tesouro desta terra
Ninguém leva, ninguém lava.
Quem cavar esse tesouro
A própria cova então cava.
Privataria tucana…
Nosso povo não se engana:
Se enganou quem enganava.