Receita de tarifas dos cinco maiores bancos no País cresce mais de 13%

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Os cinco maiores bancos em operação no País viram a receita com tarifas e prestação de serviços crescer 13,52% nos nove primeiros meses de 2011, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), autor do levantamento, Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander tiveram ganhos de R$ 53,931 bilhões. O valor será ainda maior quando os balanços do ano forem divulgados, até o final deste mês.


A maior alta proporcional foi da Caixa, com 21,78%. A arrecadação mais elevada ficou para o Itaú Unibanco (R$ 13,96 bilhões). A principal preocupação do estudo são as tarifas cobradas por transferências, já que, na visão da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), uma eventual isenção desse tipo de operação poderia contribuir para a redução no número de assaltos na modalidade conhecida como “saidinha de banco”. Nesse tipo de crime, pessoas que sacaram grandes montantes são abordados nas proximidades de agências.


Durante a campanha salarial de 2011, os sindicalistas do setor cobraram dos bancos a possibilidade de zerar os valores cobrados para DOCs eletrônicos e TEDs como forma de reduzir a circulação de dinheiro vivo em agências. A sugestão não foi aplicada até o momento.


Segundo o sistema de divulgação de tarifas de serviços financeiros da Febraban as tarifas para transferências presenciais vão de R$ 8,00 (Banco Alfa) a R$ 20,00 (Banco do Nordeste), enquanto o DOC é tarifado de R$ 6,00 (Mercantil do Brasil) a R$ 11,50 (BRB).


Os dados contrastam com informações divulgadas na primeira semana de janeiro e comemoradas pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) de que as tarifas de transferência adotadas no Brasil seria a quarta menor entre dez países pesquisados. O estudo foi realizado pela consultoria internacional Accenture levando em conta que o valor cobrado pelo serviço no Brasil gira em torno de R$ 7,50 – patamar bem inferior ao verificado na prática.


O efeito da cobrança de taxas, segundo os sindicalistas, é que correntistas optam por sacar valores altos para repassá-los em mãos em vez de fazer transações por meio dos bancos. “Preferem efetuar saques para não pagar essas tarifas e acabam sendo alvos de assaltantes, diante da falta de privacidade na hora dos saques em quase todos os estabelecimentos financeiros”, destaca Ademir Wiederkehr, diretor de imprensa da Contraf-CUT.


Em 2011, de acordo com levantamento da entidade em conjunto com a Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV), 49 pessoas foram assassinadas em assaltos envolvendo bancos em 2011 em todo o País. Dessas, 32 morreram em “saidinha de banco”. O levantamento havia sido realizado a partir de registros no noticiário publicado no período.


No ano passado, cidades como São Paulo e Fortaleza proibiram, por meio de legislações específicas, o uso de celulares no interior de agências bancárias. A justificativa da iniciativa é que os aparelhos haviam se tornado aliados dos criminosos. Para os sindicalistas, a medida é insuficiente para contornar o problema. A isenção de tarifas, aliada a instalação de biombos para assegurar privacidade à operação, seria mais efetiva nesse sentido.

TARIFAS SOBEM, MAS SERVIÇOS AOS CLIENTES NÃO MELHORAM


O sistema financeiro brasileiro continua se superando quando o assunto é cobrança ao consumidor. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as tarifas bancárias no País tiveram alta de 12,46% em 2011, ficando 5,96 pontos percentuais acima da inflação, que fechou o ano em 6,5%. Os números fazem parte dos cálculos do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e levam em conta o peso de alguns itens no orçamento familiar do brasileiro. No subitem “serviços bancários”, o IBGE considerou as taxas pelo uso de cartões de crédito, pelo fornecimento de talões de cheques, extratos bancários e demais serviços de administração de contas.


E os juros cobrados pelos bancos no Brasil estão entre os maiores do mundo. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor – Proteste – aponta que, só os juros de financiamentos por meio de cartão de crédito no Brasil – o chamado crédito rotativo –, superam em muito os cobrados por outros seis países da América Latina. A taxa média aqui chega a 237,9% ao ano, quase cinco vezes maior que a da Argentina, que aparece em segundo lugar com média de 50% ao ano.


Com base em dados do Banco Central, a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) divulgou a média de juros de alguns produtos bancários em 2011. A do cheque especial chegou a 162% a.a. e a de empréstimo pessoal a 64% a.a.

Contradição – Os dados do IBGE contradizem os divulgados em janeiro pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Segundo os banqueiros, de 29 tarifas mais usadas pelos consumidores, dez aumentaram – e apenas uma acima da inflação –, duas caíram e 17 ficaram inalteradas. Mas tanto os números usados no cálculo quanto a metodologia não foram divulgados pela entidade. Além disso, a Febraban toma como base informações fornecidas pelos próprios bancos. Além disso, segundo os balanços dos cinco maiores bancos no País – Banco do Brasil, Caixa, Bradesco, Itaú e Santander – o montante arrecadado com as tarifas aumentou em média 13,52% entre janeiro e setembro de 2011, em relação ao mesmo período de 2010.

Maus serviços – Os bancos no Brasil não se superam apenas nos preços de tarifas ou nos juros aos clientes, eles também são campeões em queixas nos Procons. Informações do boletim 2011 do Sindec (Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor), que reúne dados de 346 unidades do Procon distribuídas por 212 municípios brasileiros mostram que as reclamações dos consumidores concentraram-se nos setores financeiro e de telecomunicações, e das 20 empresas mais demandadas no Sindec, o Itaú Unibanco ocupa o primeiro lugar, com 81.946 queixas. O Bradesco aparece em quarto lugar, o Santander em sétimo e o BB em nono. A BV Financeira, o Banco BMG, a Caixa, Citibank e HSBC também aparecem no ranking.