Relações triangulares em debates televisivos

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Não são debates livres nem oferecem aos contendores o tempo suficiente para bem arguir e defender suas opiniões e propostas de modo mais esclarecedor. Os debates na TV entre candidatos a prefeito, agora como antes, são uma espécie de arena que envolve conteúdo, porém principalmente jogo de cena. Mais do que a consistência do que se disse, o que fica é a impressão causada no telespectador.


Os formatos diferem em detalhes, não no essencial. A cena montada, como que para digladiadores e não postulantes a cargos de tamanha responsabilidade obedece a razões de marketing midiático, ao padrão norte-americano.


A armadilha é atrair todos para uma mesma disputa – a que se dá no terreno do jogo de palavras, da maior ou menor capacidade de escapar de “pegadinhas” ou de responder com serenidade ou pavio curto a uma provocação desferida por um dos contendores. Cai na armadilha quem carece de discernimento – ou não tem propostas a sustentar com razão e consistência.


A melhor escolha é dirigir-se prioritariamente ao telespectador, diante de quem o candidato se coloca ao mirar a câmera diante de si. Aí vale muito menos impressionar ou satisfazer os demais candidatos, o mediador e/ou outros jornalistas participantes, e sim esclarecer e convencer quem está diante da telinha.


Nesse caso, engana-se quem apela tão somente para as aparências, ou faz disso seu principal trunfo. Exibir suposta “competência” mediante argumentos de autoridade e mesmo uso e abuso de expressões pretensiosas tem certamente efeito negativo. Mais ainda se ainda se tenta menosprezar ou desqualificar o adversário.


Trata-se de um pleito municipal. Embora se saiba que nenhuma cidade, mesmo uma corruptela interiorana, não está a salvo de injunções de natureza federal e estadual, o foco está nos problemas do município, suas potencialidades, seus desafios. Importa sobretudo apresentar alternativas ao desenvolvimento local em bases progressistas e sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico, como social e ambiental. Isto de modo claro e compreensível, além de responsável e factível.


A pirotecnia em todos os casos tem fôlego curto. Diferentemente, a consistência, o respeito aos adversários e, mais do que tudo, o cuidado em apresentar ideias e propostas com argumentação sólida e palatável bem que ajuda o candidato na sua busca de votos.


Luciano Siqueira – Médico, deputado estadual em PE, membro do Comitê Central do PCdoB