Solidariedade a Emir Sader

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A reação à condenação do sociólogo e colunista da Agência Carta Maior, Emir Sader, no processo de injúria movido pelo senador Jorge Bornhausen (PFL-SC) motivou uma extensa corrente de solidariedade no Brasil e no exterior. Ela se materializa num abaixo-assinado com mais de 10 mil nomes. O Sindicato dos Bancários do Ceará é signatário do abaixo-assinado. A sentença envolve um ano de detenção, em regime aberto, conversível à prestação de serviços à comunidade e à perda de seu cargo de professor na Uerj.

A condenação foi motivada por um artigo publicado na Revista Carta Maior em 28/9. O colunista se referia a uma manifestação pública do senador feita dois dias antes. Ao ser questionado em um evento com empresários se estava desencantado com a crise política, Bornhausen respondeu: “Desencantado? Pelo contrário. Estou é encantado, porque estaremos livres dessa raça pelos próximos 30 anos”. A “raça” a que se referia o senador era o PT e a esquerda.

Nesta entrevista, Sader, um dos mais importantes intelectuais brasileiros da atualidade, autor e organizador de 77 livros, fala da condenação e de suas impressões sobre o contexto em que ocorreu.

Como o sr. avalia sua condenação?

Sader – Eu me surpreendi com a rapidez do andamento do processo, com a conclusão e com a contundência da condenação. A única audiência para a qual fui chamado aconteceu no Rio de Janeiro. Aleguei que, no artigo que motivou o processo, respondi com indignação a uma agressão feita pelo senador Jorge Bornhausen.

Como foi o julgamento?

ES – O julgamento caiu coincidentemente no dia em que fui eleito secretário-geral do Clacso (Conselho Latino Americano de Ciências Sociais), em 25 de agosto último. Como avisei que não poderia estar presente, o juiz alegou que o julgamento era à revelia, embora meu advogado estivesse presente. E, com esse pretexto, não convocou nenhuma testemunha de defesa.

O que o sr. pretendia com o artigo que motivou o processo?

ES – Expressei minha indignação diante da forma com que as elites brancas tratam o povo, referindo-se a “raça”, “corja”, “gentalha”, “populacho” e outros qualificativos dessa espécie. É um linguajar usual e cotidiano expresso em círculos privados.

Um dos pontos da condenação é a perda de seu cargo como professor na Universidade Estadual do RJ.

ES – É um absurdo, pois ele alega que me vali da dignidade do cargo e da carreira para atacá-lo. Isso não é verdade.

O sr. vê alguma relação entre a sentença e o momento político?

ES – Acho que a rapidez dos trâmites e o resultado da disputa eleitoral mostra que estamos diante dos estertores de uma direita desolada, que busca demonstrar o poder que ainda tem. Eles vêm seu espaço político se reduzir.

Quais os próximos passos que o sr. pretende dar no caso?

ES – De imediato, a expectativa é a da suspensão da sentença. Em seguida vamos recorrer a uma instância superior.