Todos eles amam HH

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O crescimento das intenções de voto na candidatura da senadora Heloisa Helena (PSOL) foi recebido com entusiasmo nas fileiras tucano-pefelistas, para quem a chance de um 2° turno na disputa presidencial está diretamente vinculada ao desempenho da senadora. O entusiasmo da direita é um pouco fingido e duplamente prematuro.

Fingido, porque um 2° turno sempre foi o mais provável. Foi assim em 1989 e 2002. Nas eleições de 2006, enquanto Lula é superconhecido e está praticamente no seu “teto” de votos, nossos oponentes são pouco conhecidos. E, com dificuldades para fazer Alckmin decolar, o Jornal Nacional e os meios de comunicação em geral estão sendo supergenerosos com HH.

Prematuro porque não basta que Heloísa Helena seja bem votada. É preciso, simultaneamente, que Alckmin cresça e que Lula perca votos. Senão, mesmo com HH bem cotada, Lula ainda pode ganhar no 1° turno.

E aí está o nó: o crescimento de HH nas últimas pesquisas foi mais forte no eleitorado tucano-pefelista. Daí se explica o esforço, feito pelo comando da campanha Alckmin e por seus aliados na imprensa, em mostrar para a senadora o caminho das pedras, ou seja, como crescer tirando votos de Lula.

Ou seja: se HH é muito provavelmente a candidata preferida dos militantes que romperam com o PT, ela está muito longe de ser a candidata dos eleitores eventualmente insatisfeitos com o governo Lula e que poderiam migrar para ela no 1° turno. O sonho da direita é que ela se torne isto, tirando votos de Lula e ajudando Alckmin a ir para o 2° turno, nas melhores condições possíveis. Acontece que a medida que a eleição vai se aproximando do 2° turno, diminui a possibilidade de HH receber o voto de protesto vindo da esquerda. À medida que fica claro que a eleição será decidida em dois turnos e que a vitória será por uma diferença apertada, cada vez mais eleitores perceberão que votar em Heloísa Helena serve apenas para ajudar Alckmin a ir para o 2° turno. E devem, portanto, manter seu voto em Lula, que aliás é o candidato cuja intenção de voto é mais sólida.

Só em outubro vai ser possível analisar cientificamente a “performance” eleitoral de Heloísa Helena, quando ela própria terá que escolher entre Lula e Alckmin. Ali será sua hora da verdade e também o que decidirá o futuro imediato do PSOL, do PSTU e do PCB.

Dentro desses partidos, há muita gente boa cujo sonho é construir mais um partido de esquerda no Brasil, que seja de massas e que possa competir com o Partido dos Trabalhadores, criando um sistema partidário semelhante ao que existiu em países como Chile, França, Espanha, Itália e Alemanha, onde dois grandes partidos de massa disputavam influência sobre a classe trabalhadora.

Infelizmente, nesta quadra da história brasileira, este sonho está vinculado à uma vitória da direita nas eleições de 2006. Suas recentes críticas a Chavez e sua posição sobre o aborto, por exemplo, não são de esquerda. Mas ajudam a entender por que todos eles amam HH.

Valter Pomar, Secretário de relações internacionais do PT