Um minuto de silêncio

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Escrevo sob o impacto do que aconteceu na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Rio de Janeiro, quinta-feira [8/4]. A presidenta Dilma, no final do ato que comemorava um milhão de empreendedores inscritos no programa micro-empreendedor individual, resolveu não fazer discurso. Apenas pediu “um minuto de silêncio em homenagem a esses brasileirinhos que foram tirados tão cedo da vida”. E chorou.


Muitos brasileiros e brasileiros choraram. Choraram de dor, choraram por não entender. Como pode um jovem brasileiro de pouco mais de 20 anos entrar numa escola onde tinha estudado, disparar dezenas de tiros a sangue frio, cirurgicamente no coração e na cabeça, matar crianças, adolescentes, jovens? Que razão é essa, que sentimento é esse, o que pode explicar gesto tão tresloucado?


Talvez nada e ninguém expliquem. Tínhamos notícias mais ou menos frequentes de fatos semelhantes nos Estados Unidos, um ou outro fato do tipo na Europa ou algum outro País. Pensávamos: mas lá a violência indiscriminada é comum e vem de longe, há posse livre de armas, fazem parte da vida das pessoas, eles fazem guerras o tempo todo, onde matam e morre muita gente inocente. O racismo e a intolerância, como se vê em tantos exemplos de um mundo globalizado, em tempos de notícia instantânea, estão presentes no seu cotidiano, quase fazem parte da sua cultura e história.


Mas o Brasil não! Aqui jamais! Aqui, há diversidade cultural, a intolerância eventualmente existente, quando acontece, não é no mesmo grau e intensidade da deles. Acabamos de eleger uma mulher presidenta da República, sinal de que mulheres, negros, mulatos, brancos, amarelos, jovens, indígenas, pessoas vindas de todas as latitudes e origens têm espaço e oportunidade, não são discriminados, não sofrem da mesma segregação de outros países. Esta chacina no Rio obriga a colocar a mão na consciência e perguntar: onde errei? Onde erramos?[…]


É preciso perguntar-se e saber se este é apenas um fato isolado, embora profundamente triste. Ou quem sabe exista alguma razão produzida coletivamente pela sociedade do consumo e do individualismo, do ter sempre mais, em vez de uma sociedade do ser, da partilha comum, da convivência fraterna, da harmonia e da paz.


Dói muito. Crianças e jovens são feitos e estão prontos para viver. São a felicidade do olhar, são o sentido de futuro, são a esperança, são o amanhã. Eu que já estou chegando nos meus sessenta talvez já tenho cumprido (ou não) boa parte do que me cabia fazer. Eles e elas não. Apenas desabrochavam na alegria juvenil e na possibilidade de ajudar a construir um outro tempo. Ou de continuar construindo outro tempo, ‘outro mundo possível’.


Como disse um pai, chorando: “chegou a hora de todo mundo se unir e fazer um Brasil melhor”. Que fique esta frase no minuto de silêncio solicitado pela presidenta Dilma. E que não seja apenas um minuto, mas uma hora, um dia, semanas, meses, anos, décadas. Brasileiros e brasileiras encarnam valores vividos, celebrados, que não podem ser quebrados por um gesto estúpido ou um acontecimento trágico. Um minuto para os jovens que perderam a vida! Um minuto de silêncio para a esperança e o futuro!

Selvino Heck – Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República