Unidade e mobilização garantirão novas conquistas em 2012, diz Contraf-CUT

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O funcionário do Itaú Unibanco e presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, o Carlão, concedeu uma entrevista fazendo um balanço das lutas e conquistas dos bancários em 2011 e projetando desafios e novas jornadas para 2012. Ele destacou a importância da unidade nacional e da mobilização da categoria para garantir novos avanços para os trabalhadores. Carlão, que também é coordenador do Comando Nacional dos Bancários e presidente da UNI Américas Finanças, chamou atenção para o problema do emprego, diante da política de rotatividade dos bancos, a necessidade de debater o sistema financeiro com a sociedade e o valor da saúde dos trabalhadores. Leia os principais trechos da entrevista:

Que balanço você faz da Campanha Nacional dos Bancários de 2011?
Carlos Cordeiro – Conseguimos avançar e consolidar conquistas na questão econômica, como o aumento real de salário, importante para a ampliação do poder de compra da sociedade, e melhorias na PLR. Mas avançamos também em outros pontos, especialmente saúde e segurança bancária, com a não publicação dos rankings individuais de metas, a possibilidade de o bancário avaliar o profissional que aplica o exame médico periódico e os avanços, mesmo que pequenos, na segurança bancária. Foi a consolidação de um modelo de negociação que conseguiu conquistas econômicas e sociais da nossa pauta de reivindicações, bem como vitórias políticas, quando desmontamos a tese equivocada de que a ameaça de inflação não permite aumento real de salário.

Quais as principais barreiras derrubadas?
Carlos Cordeiro – A grande barreira que derrubamos, e que foi o maior destaque da campanha, foi sair com aumento real de salário numa situação de inflação considerada alta. Isso foi fundamental não só neste momento, mas para campanhas futuras. Se os trabalhadores do setor financeiro – o mais lucrativo da economia brasileira – não tivessem conquistado aumento real, isso teria impacto em todas as outras categorias. Éramos a bola da vez. Houve toda uma atuação do governo federal, do Banco Central e dos bancos, através da Fenaban, com pressão junto à opinião pública nesse sentido. Mas não só consolidamos o aumento real para os bancários, como ficou a referência para as outras categorias e a sociedade de que precisamos de aumento real nos salários para o Brasil crescer com distribuição de renda.

Qual o papel da mobilização dos trabalhadores nesse contexto?
Carlos Cordeiro
– Se nós avançamos na parte econômica, nas questões de saúde, na conquista de mais contratações na Caixa, na segurança e na questão política, com a consolidação do aumento real, isso tudo só foi possível por dois fatores: a unidade nacional, fundamental para consolidar esse modelo de campanha, e o aumento do grau de mobilização da categoria. Dessa forma, fizemos a maior greve dos últimos 20 anos, com quase 10 mil agências fechadas em todo o País. A unidade e mobilização foram determinantes para isso.

Houve diferença na postura dos bancos nessa campanha?
Carlos Cordeiro
– Os bancos trabalham muito com a conjuntura. Em 2011, eles viram a conjuntura econômica, com a crise externa e a inflação.Tentaram se aproveitar desse debate para nos impor uma derrota. Por muito pouco não levaram a solução da campanha para o TST (Tribunal Superior do Trabalho) – o que o Banco da Amazônia fez, assim como também aconteceu na greve dos Correios. Os bancos esticaram a corda e tentaram nos derrotar. O impressionante foi a resposta madura dos bancários e dos sindicatos, que aumentaram a mobilização. A categoria teve uma sabedoria muito grande de aumentar gradativamente a greve e derrotar os bancos.

Quais os desafios das mesas temáticas em 2012?
Carlos Cordeiro – Conseguimos retomar mesas permanentes nas vésperas da campanha, num esforço da Contraf-CUT. O principal avanço que tivemos foi a retomada. Nas discussões, tivemos avanços pequenos. Nosso desafio para 2012 é começar o ano implementando tanto as quatro mesas temáticas com a Fenaban (saúde do trabalhador, igualdade de oportunidades, terceirização e segurança bancária) quanto às específicas com cada banco. Vamos tratar temas importantes para a categoria. Não só remuneração, como a discussão de plano de cargos e salários também nos bancos privados, mas também de saúde, condições de trabalho, segurança e previdência complementar.

Qual é o grande problema da categoria?
Carlos Cordeiro – O grande problema hoje é o emprego e as condições de trabalho. Como enfrentar a rotatividade. É uma vergonha, uma violência praticada pelas empresas, e em especial pelos bancos, para reduzir custos: trocam de trabalhador para baixar o salário médio. Em outros setores no Brasil também há rotatividade, mas o salário não cai como nos bancos. Os bancos são o setor que tem a maior diferença salarial entre demitidos e contratados. No caso do Itaú e Santander, não é apenas a rotatividade, mas houve também a redução de postos de trabalho em 2011, mesmo com grandes lucros. Outro grave problema são as condições de trabalho nos bancos, sobretudo o assédio moral e as metas abusivas, que têm trazido estresse, adoecimento de milhares de trabalhadores e pedidos de demissão.

O sistema financeiro é o setor da economia que mais lucra no Brasil. Por quê?
Carlos Cordeiro –
O lucro dos bancos vem de quatro fontes. Primeiro: 25% vem, em média, da remuneração de títulos públicos, pagos com nossos tributos. Tira-se dinheiro de programas sociais para pagar a dívida pública. Outros 25% vem das tarifas bancárias, que antes cobriam cerca de 30% da folha de pagamento dos bancos e hoje cobrem, em média, 170%. O grande desafio é baixar os juros, que são muito altos em relação ao resto do mundo.

Qual a diferença entre a bancarização, pregada pelos bancos, e a inclusão bancária, defendida pelos bancários?
Carlos Cordeiro
– Temos que discutir qual o papel dos bancos. Está colocada a questão da bancarização proposta pelos bancos frente à universalização dos serviços bancários que defendemos. Se o banco é uma concessão pública, todo cidadão tem o direito de ter uma conta. Por que só pode ter a partir de certa remuneração? Por que só a partir de certa renda o cliente pode ser atendido na agência e o resto é empurrado para as lotéricas? Todo cidadão tem o direito de ter conta e não pode ser discriminado. E todo atendimento deve ser feito por bancário – sem atendimento de segunda ou terceira categoria. Isso passa pelo debate dos correspondentes bancários, que são uma terceirização para reduzir custos dos bancos.

Qual a proposta dos bancários para tornar o sistema financeiro mais justo?
Carlos Cordeiro – A regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal, proposta que está desenhada há algum tempo e tem inclusive um projeto no Congresso. Queremos regulamentar o sistema financeiro com democratização e controle da sociedade. Uma das coisas importantes é que todo mundo tenha direito a ter conta em banco. Que haja crédito direcionado para o desenvolvimento, para gerar empregos […] Defendemos também a ampliação do Conselho Monetário Nacional, com a participação da sociedade civil e dos trabalhadores. É ali que se define a política monetária, a taxa de juros e hoje só se olha a inflação, não se olha para a geração de empregos, o aumento do crédito. Queremos participar e garantir contrapartidas sociais na definição dessas políticas macroeconômicas. Queremos que o Congresso crie a Comissão Parlamentar Mista do Sistema Financeiro. Os bancos públicos devem liderar o processo de direcionamento do crédito com juros baixos, pressionando os privados nessa direção. É um absurdo que os bancos federais e privados cobrem essa taxa altíssima de juros. Queremos bancos servindo à sociedade e não se servindo dela.

Qual o papel do Banco Central nesse contexto?
Carlos Cordeiro
– Ao contrário do que prega a grande mídia, defendemos que o BC tem que ser dependente da sociedade e não do mercado. O que vemos hoje é um BC voltado para o sistema financeiro. As medidas tomadas são para os bancos. O BC hoje é o sindicato nacional dos bancos no Brasil. Temos que enfrentar esse debate e acabar com esse modelo de BC. O papel é fiscalizar e punir os maus gestores do sistema financeiro, ouvir a sociedade e fazer uma política de universalização dos serviços bancários, além de reduzir o spread e promover o crédito, ou seja, tudo na contramão do que ele vem fazendo. Por que o BC não enfrenta os bancos? Isso é um cartel e é papel dele enfrentar.

Houve avanços na internacionalização da luta dos bancários?
Carlos Cordeiro – Olhando a categoria, tivemos alguns avanços. Conseguimos um acordo marco global com o Banco do Brasil, através da UNI Sindicato Global, com apoio da Contraf-CUT. Ele garante que todos os trabalhadores do BB nas Américas e nos demais continentes tenham direito a se organizarem em sindicatos, com negociação coletiva e sindicalização, ou seja, os princípios estão garantidos.

Como tem sido a relação com o Congresso Nacional?
Carlos Cordeiro – Foi um campo em que avançamos nesse ano. Fizemos uma reunião com parlamentares bancários e apresentamos nossas preocupações, como as questões dos correspondentes bancários, da segurança, da regulamentação do artigo 192 e da terceirização. Depois, por conta da conjuntura, o debate ficou focado nos correspondentes. Queremos levar em 2012 a proposta da Conferência Nacional do Sistema Financeiro para a presidenta Dilma Rousseff. Temos que ampliar nossas relações institucionais com o parlamento e o Executivo.

Quais as perspectivas da Contraf-CUT para 2012?
Carlos Cordeiro
– A partir dessa conjuntura, acho que os sindicatos de bancários têm que ocupar espaço junto com as centrais e se tornarem de fato referências dos trabalhadores. Temos que ser a referência na discussão da reforma tributária, da reforma política, da reforma do sistema financeiro e na disputa de renda que teremos daqui pra frente. Temos que disputar outro patamar de emprego, que passa pelo debate da terceirização que está ocorrendo no Congresso. Não basta apenas resistir e lutar contra, mas buscar outro modelo que dê ao trabalhador segurança e estabilidade no emprego.

Que ações a Contraf-CUT deverá realizar no próximo ano?
Carlos Cordeiro
– A Contraf-CUT tem que se aproximar ainda mais dos sindicatos e dos dirigentes sindicais. Dar condições para que a nossa intervenção seja mais qualificada. Só vamos ser referência para os trabalhadores se levarmos esses debates de dentro para fora dos sindicatos. Os dirigentes têm que estar engajados nessas grandes reformas necessárias, estar mais qualificados para ganhar essa disputa sobre que o tipo de País que precisamos.

Qual é a mensagem que você deixa aos bancários para 2012?
Carlos Cordeiro
– Vivemos um momento de grandes oportunidades em nosso País. A unidade, a mobilização e a solidariedade entre os trabalhadores de diversas categorias serão elementos centrais para vencermos os desafios em 2012, com mais e melhores empregos e com distribuição de renda. Desta forma, conseguiremos transformar este momento que o Brasil vive de crescimento econômico em desenvolvimento com inclusão social para todos e todas.